Título: A batalha mundial em Copenhague
Autor: Paraguassú, Lisandra
Fonte: O Estado de São Paulo, 07/12/2009, EcVida&, p. A17
Hoje, Copenhague começará a ser palco da batalha mundial conta o aquecimento global. Quinze mil cientistas, 3 mil jornalistas, 2 mil reuniões. A conferência durará 10 dias. O que produzirão todos esses especialistas, todos esses cérebros? Veremos.
Nessas enormes conferências planetárias, sempre se prevê uma "anticonferência", dita "off". A de Copenhague se chamará "Klimatorum" e apresentará, sob encomenda, um africano do Mali ameaçado pela seca e uma camponesa de Bangladesh ameaçada pela inundação. Nas ruas, haverá milhares de anarquistas, agitadores, arruaceiros e "radicais do resfriamento". Nada de pânico! A polícia montou em toda a cidade grandes gaiolas nas quais trancafiará os manifestantes mais açodados.
Esse clima febril também está presente entre os cientistas e especialistas. Uma guerra de uma violência inaudita se trava nos bastidores e nos laboratórios, entre os climatologistas que acreditam no aquecimento e os que não acreditam.
O clã dos "climatocéticos" é virulento. Ele assegura que o aquecimento é a "balela do século". Ele possui uma arma de guerra: gráficos provando que as temperaturas mundiais declinam desde 1998. Os outros zombam: "Esse gráfico é uma farsa, uma impostura". Adversários de chamam de mentirosos, manipuladores, escroques e piratas.
Um dos chefes da luta contra o aquecimento, o importante cientista inglês James Hansen, do Goddard Institute of Space Studies, desejou solenemente "o fracasso de Copenhague". Por quê? Porque esta conferência, realizada nessas condições, seria um fracasso. Seriam adotadas medidas mínimas e elas não seriam respeitadas.
Os políticos não são mais tranquilizadores. O presidente francês Nicolas Sarkozy, que adora "salvar o planeta" de tempos em tempos, decidiu agarrar o touro a unha. Ele começou por censurar o fato de o presidente americano Barack Obama "passar voando" por Copenhague, antes de ir receber seu prêmio Nobel na Suécia. Também questionou o fato de Obama comparecer no início da conferência, em vez de ir nos dois últimos dias do encontro, como os outros chefes de Estado, quando será preciso tomar decisões difíceis, heroicas.
É preciso reconhecer que o presidente francês não mediu as palavras.
Com seu ministro da Ecologia, Jean-Louis Borloo, ele apresentará um relatório explosivo. Esse relatório não esconde que o salvamento do planeta custará muito caro porque será preciso investir muito dinheiro nos países pobres para ajudá-los a lutar contra o CO2: 500 bilhões de euros logo de cara.
Felizmente, Sarkozy não se afoba. Ele previu um mecanismo para financiar essa fortuna: bastará criar um imposto de 0,01% sobre todas as transações financeiras mundiais. Será uma boa ideia? Certamente, embora pouco perigosa porque inaplicável.
Sarkozy empunhou também seu "cajado de peregrino" para pregar ao mundo a luta contra o aquecimento, já que Obama, que nem sequer foi capaz de convidar Sarkozy à Casa Branca depois de um ano no cargo, não faz grande coisa. O ministro Borloo está encarregado dos países asiáticos.
Sarkozy reservou a América para si. Ele foi a Manaus em 14 de novembro para se encontrar com Lula e reunir em torno de si os chefes de Estado da região.
"Ele devia arrastar toda a América do Sul", diz o jornal satírico Le Canard Enchainé. "Ele esperava uma recepção triunfal, como Bolívar libertando o continente dos espanhóis. Encontrou apenas o representante da Guiana para aplaudi-lo. Todos os demais chefes de Estado haviam cancelado sua presença. Um desses fiascos que marcam uma carreira."
* Correspondente em Paris