Título: Copenhague, alerta
Autor: Ming, Celso
Fonte: O Estado de São Paulo, 08/12/2009, Economia, p. B2

Celso Ming, celso.ming@grupoestado.com.br

A 15ª Conferência das Partes da Convenção do Clima das Nações Unidas (COP-15) começou ontem em Copenhague, capital da Dinamarca, num momento em que a mais grave crise econômica depois dos anos 30 ainda não foi superada e, principalmente, numa situação em que o mundo não sabe o que quer.

Representantes de 192 países, dos quais cerca de 100 chefes de Estado, estão reunidos para discutir como parar a escalada do aquecimento global. A ideia é obter o máximo com o mínimo. Conseguir a máxima reversão das adversidades climáticas com o menor custo e, claro, com enorme sacrifício do desenvolvimento dos países pobres. E essas coisas nem sempre são politicamente compatíveis.

Por mais que os países avançados europeus pressionem para reduzir a emissão dos gases causadores do efeito estufa (principalmente o CO2), são alguns países ricos que se tornaram os maiores obstáculos a uma macropolítica ambiental. Os dois maiores adversários da obtenção de um grande acordo são Estados Unidos e Canadá. Há pouca disposição dos políticos americanos em aprovar projetos de conservação ambiental. O Protocolo de Kyoto, de 1997, que estabeleceu um esforço global pouco ambicioso para conter as emissões, foi rejeitado pelos Estados Unidos. E, desta vez, o presidente Obama não se mostrou disposto a colocar sua força para avançar os termos de um entendimento. Obama vai a Copenhague, mas, propositalmente, em data diferente da agendada para o encontro de chefes de Estado.

E, no entanto, o custo enorme de um tratamento ambiental adequado atinge mais diretamente os países pobres e emergentes, que terão de pagar um preço muito mais alto do que o pago pelos países ricos no passado para se industrializarem. Deles estão sendo exigidas menor queima de combustíveis fósseis e mais observância de padrões ambientais para projetos de desenvolvimento (como portos, estradas, ferrovias e hidrelétricas). Para chegar onde chegaram, os países europeus e os Estados Unidos não tiveram nenhuma restrição para desmatar, esgotar recursos hídricos e construir fábricas e usinas.

Limpar e frear o aquecimento do Planeta custa muito dinheiro, que os países pobres não podem pagar. Mais do que isso, exigirá enorme esforço fiscal dos países ricos, que hoje estão quase quebrados. Apenas para evitar novas emissões de CO2 na produção de energia elétrica, serão necessários quase US$ 11 trilhões em 20 anos, volume comparável ao lançado pelos Tesouros e bancos centrais dos países industrializados para estancar a crise e que hoje está aprofundando os déficits orçamentários.

O argumento que se contrapõe a este é o de que começar agora ainda está barato. O aumento do estrago encarecerá o resgate em alguma coisa em torno de meio trilhão de dólares por ano. Pior que isso, o avanço do aquecimento deve provocar catástrofes climáticas ao redor do mundo cuja reparação aprofundará essa conta em centenas de bilhões de dólares.

Parte da indiferença em relação às questões ambientais e a maior oposição a um grande acordo global parecem provir de interesses econômicos, especialmente da área do petróleo e da rede produtora de energia termoelétrica. Mas não dá para ignorar os gols contra marcados por tantos ambientalistas que preferem fazer ecoterrorismo em vez de prover uma conscientização objetiva e, sobretudo, honesta.

Confira

Na prática a teoria é outra - A CNI e a Fiesp reclamam da desindustrialização e sucateamento da indústria, mas a confiança do setor nunca foi tão alta.