Título: Mercosul pode ter fundo soberano regional
Autor: Marin, Denise Chrispim
Fonte: O Estado de São Paulo, 08/12/2009, Economia, p. B3

Ministros de Economia dos países-membros aceitaram discutir o tema em reunião marcada para fevereiro de 2010

MONTEVIDÉU

Sob o temor de que a desvalorização do dólar em relação às demais moedas fortes provoque tensões nas economias do Mercosul, os ministros de Economia dos quatro sócios do bloco concordaram em analisar medidas comuns de administração das reservas internacionais e de mitigação dos riscos de volatilidade. Entre as ideias a serem consideradas em reunião marcada para fevereiro de 2010, está a criação de uma espécie de fundo soberano regional.

A inclusão do tema nas discussões de ontem, em Montevidéu, partiu do ministro de Economia da Argentina, Amado Boudou, ciente da presença do vice-chanceler canadense, Leonard Edwards. O Canadá foi convidado pelo governo uruguaio porque será a sede da próxima cúpula do G-20, grupo das economias mais ricas, que será em junho de 2010 em Toronto. Segundo Boudou, o Mercosul tentará fechar, em fevereiro, uma posição afinada para a reunião do G-20. Em especial, sobre a desvalorização do dólar.

O chefe de gabinete do Ministério da Fazenda, Luiz Eduardo Melin, admitiu a preocupação com o fato de não haver um parâmetro, para os próximos 12 meses, sobre a cotação do dólar em relação às principais moedas. Essa situação é agravada pela incerteza com a desvalorização excessiva da moeda chinesa, o yuan, diante do dólar.

À imprensa, Boudou insistiu na via da ampliação do mecanismo de troca de moedas - o chamado swap cambial - para todo o Mercosul e seus associados (Bolívia, Chile, Equador, Peru, Colômbia e Venezuela). Trata-se da mesma proposta defendida nos últimos anos pelo governo brasileiro, que criou com a Argentina um sistema de swap no ano passado.

Com amplo apoio de Melin, Boudou também defendeu a ampliação do Sistema de Pagamento em Moeda Local (SML), outro mecanismo em vigência apenas entre Brasil e Argentina, para os demais sócios do bloco. No início de 2010, o sistema entre o Brasil e o Uruguai entrará em operação. Embora abarque apenas 1,5% do comércio Brasil-Argentina, o SML é visto como meio eficaz de inserção de pequenas e médias empresas no intercâmbio de produtos e serviços porque elimina os custos das operações cambiais, como acentuou a ministra de Indústria e Turismo da Argentina, Débora Giorgi.

Fontes da chancelaria argentina, entretanto, deixaram claro que a criação de um fundo soberano regional está no horizonte, como mecanismo para proteger uma parcela das reservas dos países do Mercosul de uma desvalorização mais profunda. A maior parte das reservas internacionais dos quatro sócios, inclusive a brasileira, está em dólar. O próprio Boudou, que evitou confirmar diretamente a proposta sobre o fundo, insinuou que a ideia foi posta na mesa de negociações.

BRASIL

O temor da Argentina de uma desvalorização artificial do real em relação ao dólar também emergiu nas discussões. A medida resultaria em aumento de competitividade de produtos industriais brasileiros no mercado argentino e acentuaria um conflito comercial que se arrasta há 15 meses.

"Claro que nenhum país quer perder competitividade. Mas as estratégias de desvalorização competitivas, feitas sobretudo pelo Sudeste Asiático, não foram razoáveis", afirmou Boudou. "Por isso, falamos na adoção de medidas de longo prazo no Mercosul", completou.