Título: Índios ameaçam com rio de sangue se projeto de usina for construído
Autor: Dantas, Pedro
Fonte: O Estado de São Paulo, 08/12/2009, Economia, p. B4

Os povos indígenas das margens do Rio Xingu ameaçaram ontem o governo federal com um "rio de sangue" se não for interrompido o projeto de construção da central hidrelétrica de Belo Monte, na Amazônia.

Em carta destinada ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a outras autoridades, os índios responsabilizam o governo pelo que poderá "ocorrer aos executores da obra, aos trabalhadores e aos povos indígenas no caso de ter continuidade o projeto da represa de Belo Monte de forma arbitrária".

"O Rio Xingu pode se transformar em um rio de sangue, que o Brasil e o mundo estejam cientes com o que possa ocorrer no futuro se os governantes não respeitarem nossos direitos", afirmaram os índios na carta, divulgada pelo Conselho Indigenista Missionário (Cimi), organização ligada à Igreja Católica.

Os índios insistem que não vão voltar a dialogar com nenhum representante do governo, pelo fato de já terem falado "tempo demais" nos últimos 20 anos.

Essa carta faz parte de uma escalada de ameaças, depois que os índios advertiram no início de novembro que as vidas dos operários da represa e dos índios estariam "em risco".

PROJETO

A usina hidrelétrica de Belo Monte será licitada em 21 de dezembro e, pelo projeto, se transformará na segunda maior central hidrelétrica do País depois da usina de Itaipu, no Paraná, cuja energia gerada o Brasil divide com o Paraguai.

Com uma capacidade instalada de 11.233 megawatts, a central hidrelétrica será construída em Altamira, no Pará, em plena Floresta Amazônica e perto da foz do Rio Xingu, no Amazonas.

O projeto de Belo Monte começou há mais de duas décadas, mas foi paralisado pela pressão de ecologistas e índios, que continuam insatisfeitos, mesmo com o governo alegando que o atual projeto é mais benigno com o entorno e deve criar empregos para a população da região.

IMPACTO

O plano de construção contempla inundar uma área de selva de 440 quilômetros quadrados, o que afetará direta e indiretamente 66 municípios e 12 propriedades indígenas e obrigará a retirada de milhões de ribeirinhos de suas casas.