Título: Evo comemora maioria para aprofundar reformas
Autor: Moreira, Adriana
Fonte: O Estado de São Paulo, 08/12/2009, Internacional, p. A13

Resultados extraoficiais confirmam controle absoluto do partido governista no Legislativo; voto da classe média pode levar líder a alterar agenda

La Paz

A vitória esmagadora de Evo Morales nas eleições de domingo foi além da conquista de mais um mandato. Ao praticamente obter a maioria de dois terços na Assembleia Plurinacional - composta pelo Senado e pela Câmara -, Evo também conseguiu total controle do Executivo e do Legislativo, consolidando seu poder no país.

"A maioria de deputados e senadores que obtivemos me obriga a acelerar esse processo de mudança", disse o presidente logo após a vitória com 63% dos votos (36 pontos porcentuais a mais que o segundo colocado, o ex-governador de Cochabamba e líder opositor Manfred Reyes Villa). Os dados tiveram como base a chamada "contagem rápida" do Instituto Mori.

Das 166 vagas da Assembleia, 110 ficaram com o Movimento ao Socialismo (MAS), partido de Evo. O PPB, de Reyes Villa, conquistou 51 cadeiras, enquanto a Unidade Nacional (UN), do empresário Samuel Doria Medina, e a Alianza Social (AS), de Rene Joaquino, ficaram com 3 cada. No Senado, o MAS obteve 25 das 36 cadeiras e o PPB, 11. UN e AS ficaram sem representação.

"É uma acumulação de poder da Bolívia inédita nos últimos 50 anos", disse o analista político Gonzalo Chávez, da Universidade Católica Boliviana. Para ele, a vitória esmagadora de Evo demonstra que não foram apenas os movimentos sociais que votaram por sua reeleição, mas também a classe média. "O governo vai pensar duas vezes antes de radicalizar, porque sabe que estará decepcionando uma grande parte de seu eleitorado."

O analista Carlos Cordero, professor de Ciências Políticas da Universidade Mayor San Andrés, tem opinião semelhante. "Sem dúvida esse apoio social se expressou em votos e isso exige que o governo de Evo desenvolva políticas públicas também para a classe média, que costuma ser muito crítica e volátil", acredita Cordero."Esse grupo apoiou Evo, mas o apoio não é eterno. Vão surgir grupos fiscalizadores e o presidente terá a responsabilidade de construir um novo Estado, mas tendo em conta a classe média que o apoiou."

Segundo Chávez, o rumo dos próximos cinco anos de governo de Evo dependerá de como será a divisão de poder dentro do próprio MAS. "Há muitos grupos que integram o partido, alguns mais radicais, outros menos, outros voltados à classe média. O que definirá a posição do governo será sua composição diante dessas várias frentes", explica.

O analista acredita ainda que a vitória de Evo foi um golpe muito forte contra a oposição. Agora, segundo Chávez, a oposição terá três meses para se reorganizar para as eleições de abril, quando os bolivianos voltam às urnas para escolher prefeitos e governadores. Para Cordero, o PPB de Reyes Villa usará essa oportunidade para tentar se reerguer.

"Também estou certo de que haverá o retorno político de ex-presidentes da Bolívia, como Carlos Mesa (2003-2005) e Jorge Quiroga (2001-2002)", acrescentou.

No discurso da vitória, na noite de domingo, Evo afirmou ser um "governo de diálogo" e disse que a vitória não é apenas do povo boliviano, "mas de todos os povos e governos que são contra o imperialismo".

A repórter viajou a convite da Fundación Nuevo Norte e Comité de Promoción Turística de La Paz