Título: Arruda fez edital para comprar 120 mil panetones no dia da ação da PF
Autor: Colon, Leandro
Fonte: O Estado de São Paulo, 03/12/2009, Nacional, p. A4
Flagrado recebendo R$ 50 mil em 2006, governador disse que dinheiro era para aquisição destinada a pobres
Para sustentar a versão de que a quantia de R$ 50 mil recebida em 2006 era uma contribuição para a compra de panetones, o governador José Roberto Arruda (DEM) montou uma licitação na sexta-feira passada, no mesmo dia em que a Polícia Federal deflagrou a Operação Caixa de Pandora. O governo do Distrito Federal vai comprar 120 mil panetones no próximo dia 10, segundo edital aberto naquele dia.
Em vídeo gravado na campanha de Arruda, em 2006, o então candidato aparece recebendo R$ 50 mil, em notas de R$ 100, do caixa de campanha, Durval Barbosa - que assumiria a Secretaria de Relações Institucionais no governo.
Por meio do secretário de Ordem Pública, Roberto Giffoni, Arruda disse que os R$ 50 mil eram colaborações de empresários para a compra de panetones e brinquedos que seriam distribuídos no Natal entre as crianças carentes.
Para tentar documentar essa defesa, o próprio Arruda disse em entrevista ao Correio Braziliense, na edição de ontem, que havia sido alertado para "os problemas (vídeos)" criados por Barbosa e, por isso, fez "um registro oficial", no Tribunal Regional Eleitoral (TRE) de todas as doações recebidas nos últimos anos a título de contribuição para as "campanhas sociais". Esses recibos estão sendo periciados pela PF - há indícios de que tenham sido forjados para justificar a suposta propina.
Além dos recibos, para reforçar a defesa da distribuição de brindes no Natal, o governador Arruda, como mostra o portal de licitações do governo do Distrito Federal, também providenciou um edital para a compra, agora em 2009, de 120 mil panetones de 400 gramas "contendo frutas cristalizadas".
As investigações da PF revelam que o governador Arruda deu esses passos preventivos - dos recibos e do edital dos 120 mil panetones - porque já sabia da proximidade da Operação Caixa de Pandora.
A inscrição para participar da venda de panetones ao governo foi aberta às 8 horas de sexta-feira, quando o pregoeiro Augusto Cesar Pires Aranha assinou o edital divulgado no site de compras da Secretaria de Planejamento e Gestão.
O edital diz explicitamente que os panetones são para "distribuir às famílias de baixa renda". A concorrência está marcada para o próximo dia 10 por meio de pregão.
Cada panetone deverá ser entregue em caixa de papel laminado, em embalagem não tóxica, não reciclada e transparente. O valor energético da fatia de 80 gramas do produto deve ser de 238 calorias, além de 5% de proteínas e 5% de fibra alimentar. No mercado, o Estado apurou que cada panetone desse tipo custa, em média, R$ 5.
Vencerá a licitação a empresa que apresentar o menor valor pela unidade do panetone. A secretaria responsável pela compra diz que vai entregá-los - com a logomarca do governo - em 134 postos de distribuição de Brasília, bairros pobres e cidades satélites do DF, como Riacho Fundo, Núcleo Bandeirante, Taguatinga, Brazlândia, Ceilândia, Samambaia, Recanto das Emas e Sobradinho.
Segundo o edital, a empresa vencedora terá de entregar 30 mil panetones em até cinco dias após a assinatura do contrato. O governo deverá receber os outros 90 mil a cada três dias, de acordo com a liberação do dinheiro.
"Os panetones objeto desta licitação deverão ser entregues no máximo com 10 (dez) dias após a sua produção", exige o governo de Arruda.
Ontem, a reportagem do Estado procurou a assessoria de imprensa do governador Arruda para comentar a compra dos 120 mil panetones, mas não obteve resposta até o fechamento da edição. No site do governo não há menção a mais nenhuma licitação de panetones.