Título: Eu não farei um juízo amoral
Autor:
Fonte: O Estado de São Paulo, 03/12/2009, Nacional, p. A8

Entrevista - José Thomaz Nonô: relator do processo contra José Roberto Arruda; ex-deputado admite que DEM lhe confiou "um abacaxi" ao escalá-lo para relatar processo contra governador do DF

Surpreendido na noite de terça-feira com o convite do presidente nacional do DEM, deputado Rodrigo Maia (RJ), para relatar o processo disciplinar contra o governador José Roberto Arruda (DF), o ex-deputado José Thomaz Nonô (AL) desembarca em Brasília hoje com uma certeza: "Não farei um juízo amoral." Com a experiência de quem passou 24 anos na Câmara, Nonô admite que recebeu do partido "um abacaxi lindo" para descascar. E, mesmo na condição de "promotor e advogado por formação", ele adianta que sua missão não é jurídica. "Não há dúvida de que a decisão do partido será política", diz Nonô, em entrevista ao Estado, lembrando que o que está em jogo é se o DEM manterá ou não o governador Arruda em seus quadros.

O senhor foi promotor. Isso pesou na sua escolha para relator do processo de expulsão do governador José Roberto Arruda (DEM)?

Eu sou a vítima. Mas acho que não foi muito por aí. Procuraram alguém com idoneidade e credibilidade. Não é por dureza, não. Acho que o critério foi alguém com experiência, sensibilidade e vergonha. Querem quem relate o caso com isenção.

E como o senhor recebe a missão?

Me deram um abacaxi lindo. Fui deputado por seis mandatos, mas nunca relatei nada desse quilate na Executiva Nacional. O que posso dizer é que o momento político é grave para o País, transcendendo o caso em si, e que isso repercute em todo lugar. Agora, que fique claro: quem vai assinar o relatório não é o ex-deputado Nonô, é o cidadão José Thomaz. Deputados são sujeitos a algumas contingências. Cidadãos, não.

Que informações o senhor já teve sobre o caso?

A única informação que tenho é a que tem a sociedade como um todo. Soube do caso pela imprensa, como qualquer cidadão e agora tenho de me inteirar da parte formal, processual.

O senhor foi surpreendido pelo convite?

Já estava deitado quando recebi o telefonema do deputado Antonio Carlos Magalhães Neto, dizendo que todos precisavam de mim, e passou o telefone ao Rodrigo Maia. Ele falou do caso Arruda e contou que havia procurado nos quadros partidários alguém que tivesse isenção, conhecimentos jurídicos bons e sobretudo credibilidade perante opinião pública para relatá-lo.

O senhor vai produzir um relatório político ou jurídico?

Não há muito como dissociar uma coisa da outra. Terá de ser um juízo de valor sobre um fato que envolve noções de direito. Mas não será relatório jurídico, até porque a sanção não é jurídica. É política. Mas que fique claro: não farei um juízo amoral.

O que se diz nos bastidores do DEM é que a decisão de expulsar Arruda está tomada.

Sei que um dos critérios de escolha foi exatamente estar longe dos bastidores. Eu particularmente acredito que o DEM não tenha uma decisão preconcebida, ou já a teria tomado. O exame dos fatos e da defesa é que vai trazer a conclusão. Vou de boa-fé, para tocar as coisas do meu jeito, na certeza de que decisões justas são aceitas pela sociedade.

O senhor vai ser candidato às eleições de 2010?

Não sei. Tenho saudades, gosto de política, afinal foram seis mandatos consecutivos. Gosto muito da instituição Congresso e lamento os problemas. Faço política aqui, presidindo o partido, mas disputar eleição, ver se vale a pena, ou não, é juízo que farei ano que vem.