Título: Presidente assume de vez condução da guerra afegã
Autor: Chacra, Gustavo
Fonte: O Estado de São Paulo, 03/12/2009, Internacional, p. A14

O presidente Barack Obama assumiu plenamente a condução da guerra no Afeganistão em seu discurso de terça-feira, afirmando que o meio mais rápido para sair do país é uma escalada significativa e urgente do conflito.

No entanto, a resposta pífia de importantes líderes congressistas e o ceticismo de republicanos em torno da estratégia indicam que o presidente deve enfrentar uma dura luta para vender a sua política.

Obama adotou uma estratégia arriscada, determinando um aumento considerável de tropas para o Afeganistão e delineando um plano de saída no mesmo discurso. Foi um nítido reconhecimento da péssima repercussão dessa guerra na opinião pública e das divisões políticas existentes, depois de oito anos de conflito.

Obama defendeu sua posição e embalou sua nova política em um apelo ao sentimento de unidade nacional que prevaleceu logo após o 11 de Setembro. Seu discurso refletiu sua determinação em traçar sua própria estratégia para liquidar a Al-Qaeda, mas evitando que o Afeganistão se transforme num atoleiro como no Vietnã.

Embora Obama tenha acatado quase na totalidade o pedido de ampliação de tropas feito pelo comando das Forças Armadas no Afeganistão, a reformulação dos prazos e a mobilização dessas forças permitiram às autoridades na Casa Branca alegarem que a estratégia final foi concebida pelo próprio presidente e não tem o selo do Pentágono.

Mas as mudanças - e a promessa de iniciar uma retirada do Afeganistão em julho de 2011 - podem não ser suficientes para evitar uma intensa batalha para financiar a guerra dentro do próprio partido do presidente.

Obama mirou principalmente no público americano, cada vez mais contrário ao conflito e insatisfeito com a maneira como o presidente vem conduzindo a guerra. Na última pesquisa do Washington Post-ABC News, 52% dos entrevistados disseram não valer a pena continuar combatendo.

O prestígio político de Obama vai depender da capacidade do Exército de implementar com sucesso a nova estratégia e a sua própria capacidade de manter a população confiante durante um período em que ocorrerão debates acirrados entre os partidos e um aumento no número de soldados mortos. Os democratas estão preocupados que a escalada do conflito, mesmo se falando em uma fase final, poderá desmoralizar sua base liberal e provocar uma perda de votos nas eleições do próximo ano.

ENTRAVES

Mas há outras plateias com as quais o presidente e suas equipes de política e segurança nacional terão de se defrontar nos próximos meses.

No Capitólio, a discussão sobre o financiamento da guerra será árdua. Na Câmara, metade dos democratas pode se opor ao pedido de mais fundos destinados à guerra e Obama dependerá de um grande número de votos republicados para conseguir aprovação da lei na Câmara e no Senado.

Mas a estratégia de saída delineada também teve por alvo uma outra audiência importante, o governo do presidente afegão, Hamid Karzai. A declaração de Obama de que, segundo o seu plano, as forças americanas podem começar a deixar o Afeganistão em julho de 2011 teve o intuito de alertar o governo de Karzai de que não pode contar com um apoio americano ilimitado. "Os dias do cheque em branco terminaram", disse ele.