Título: Reunião da OMC termina sem avanço
Autor: Chade, Jamil
Fonte: O Estado de São Paulo, 03/12/2009, Economia, p. B16

Pascal Lamy admite que será difícil concluir Rodada Doha em 2010

A reunião ministerial da Organização Mundial do Comércio (OMC) foi concluída ontem sem uma agenda clara para concluir a Rodada Doha, com a credibilidade da entidade arranhada e uma apatia inédita na organização que serve como o centro do comércio mundial. O próprio diretor da entidade, Pascal Lamy, alertou que nesse ritmo as negociações dificilmente seriam concluídas em 2010.

Com o pior ano para o comércio em sete décadas, diplomatas indicaram que a OMC demonstrou que sofre para dar uma nova resposta à crise. Todos os ministros garantiram que são contra o protecionismo e afirmaram que querem concluir a Rodada Doha até o fim de 2010. Mas não há um acordo nem agenda sobre como isso deva ocorrer.

Os dedos apontavam a administração Barack Obama como a responsável pelo impasse. "Sou o cara mais atacado nesse local", disse ao Estado o representante de Comércio da Casa Branca, Ron Kirk.

Emergentes, europeus e mesmo aliados estratégicos dos Estados Unidos acusaram Washington de estar pedindo novas concessões na abertura de mercados, sabendo que isso travaria o processo. Kirk deixou claro que os americanos apenas aceitarão um acordo que signifique a criação de postos de trabalho nos Estados Unidos em setores exportadores.

"O presidente Obama quer um acordo. Mas um que abra o comércio para exportações", disse. "A questão é se há um compromisso político dos demais países. Todos terão de tomar decisões difíceis, inclusive aqueles que querem liderar", afirmou Kirk, em uma mensagem ao Brasil.

Para Amorim, o que os EUA estão fazendo é "desmontando" a rodada, ao pedirem mais liberalização de mercado.

Nos três dias de debates, o chanceler não apareceu e ontem nem esperou a conclusão do evento. Amorim interveio apenas na abertura do evento, na segunda-feira. Seu discurso durou três minutos. Mas foi forte suficiente para irritar os americanos.

O único acordo assinado foi entre o Brasil e cerca de 20 países emergentes para cortar em 20% as tarifas para produtos agrícolas e industriais entre eles.

Mesmo assim, não se sabe ao certo quais produtos serão liberalizados. Isso será decidido nos próximos dez meses. O projeto, batizado de Rodada São Paulo, foi lançado na capital paulista em 2004.