Título: Enfraquecido, Enem começa hoje
Autor: Cafardo, Renata
Fonte: O Estado de São Paulo, 05/12/2009, Vida&, p. A25

Prova, que foi adiada por fraude em outubro, continua amanhã; mais de 4,1 milhões de jovens estão inscritos

O que era a promessa de acabar com o vestibular no País foi parar nas salas da Polícia Federal. O vazamento do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) em outubro, denunciado às vésperas da sua realização pelo Estado, enfraqueceu uma prova inovadora que seria feita por 4,1 milhões de estudantes. Apesar da mudança radical no esquema de segurança, os mesmos jovens chegam hoje e amanhã para fazer o Enem enumerando os prejuízos do adiamento.

A prova começa hoje às 13 horas, com questões de ciências da natureza e ciências humanas. Amanhã, serão as áreas de linguagem, matemática e redação. São 180 questões nos dois dias, que servirão como seleção para 25 universidades federais - elas deixaram de fazer vestibulares para usar apenas o Enem. Em São Paulo, no entanto, o incidente fez com que os dois exames mais importantes, da USP e da Unicamp, desistissem de computar a nota da prova do Ministério da Educação. O Enem significava 20% da primeira fase nas duas instituições.

"Acredito que a abstenção vai ser alta no Estado", diz a educadora Maria Inês Fini, que foi coordenadora do Enem no governo Fernando Henrique Cardoso. Cerca de 1 milhão de alunos de São Paulo se inscreveram. Nos colégios acostumados a ficar no topo do ranking do Enem - a prova também é usada para listar as escolas, de acordo com o desempenho de seus alunos - o sentimento é o mesmo. O diretor do Colégio Móbile, Blaidi Sant"Anna, acredita que 50% dos alunos farão o exame. "A diferença neste ano é que, com a situação atípica criada pelo adiamento e a consequente exclusão da pontuação pelas grandes universidades, nossos resultados serão também atípicos", afirma Mercedes Ferreira, do Colégio Ítaca.

Reynaldo Fernandes, presidente do Instituto Nacional de Pesquisas e Estudos Educacionais (Inep), órgão do MEC responsável pelo Enem, acredita que as faltas devem continuar como em outros anos (por volta de 20%). "Não vai acabar com o Enem porque a USP não entrou." Para ele, muitos alunos estão interessados em conseguir as bolsas do ProUni cuja seleção é também pelo Enem.

"Acho que perdeu a credibilidade porque você vê que eles (governo) não estavam levando tão a sério quanto a gente", diz a vestibulanda Heloisa Sungala, de 17 anos. "Todo mundo ficou muito decepcionado. Mas não chegou a desmoralizar a prova", completa Amanda Wirgues, de 17 anos.

"Se tudo der certo agora, a credibilidade vai retornar e poderemos discutir questões mais conceituais", diz Fernandes. Educadores acreditam que o vazamento desviou o foco da prova, que levaria a um debate educacional importante. "O novo Enem é um grande impacto no ensino médio, leva à discussão do que o aluno tem de aprender para ingressar no ensino superior. Mas em vez de educação, ficamos discutindo segurança", diz o especialista da Universidade Federal de Minas Gerais, Francisco Soares.

O Enem é uma prova não conteudista, que cobra competências e habilidades. Não é dividido em disciplinas e, sim em grandes áreas do conhecimento.