Título: Detentos farão a prova só em janeiro
Autor: Stanisci, Carolina; Oliveira, Elida
Fonte: O Estado de São Paulo, 05/12/2009, Vida&, p. A28

Data especial nas prisões é para que o sigilo não seja quebrado

Os detentos inscritos no Enem farão a prova somente nos dias 5 e 6 de janeiro. Segundo apurou o Estado , a data especial foi decidida porque haveria a necessidade de os carcereiros abrirem os pacotes de prova antes da aplicação, o que colocaria em risco o sigilo do exame.

O exame será feito nas próprias unidades prisionais. Para não atrapalhar as visitas, que ocorrem aos fins de semana, as provas serão em dias úteis.

No dia 5 de janeiro, uma terça-feira, serão aplicadas as provas de ciências da natureza e ciências humanas. No dia 6, os detentos farão as provas de matemática, linguagens e também a redação.

De acordo com o MEC, as questões serão diferentes das contidas na prova deste fim de semana, mas o nível de dificuldade é idêntico. Por causa da Teoria de Resposta ao Item (TRI), conjuntos de modelos matemáticos no qual o Enem se baseia, há um banco de 1,8 mil questões já pré-testadas.

Em todos os outros detalhes, como o tempo para resolução, a prova aplicada aos detentos será a mesma.

Nas prisões do Estado de São Paulo, 7.808 detentos estão inscritos no exame. O paulista Marcio Nakayama, de 32 anos, vai fazer a prova. Ele cumpre pena de 12 anos por homicídio na Penitenciária de Bauru, interior de São Paulo.

Preso desde 2003 - atualmente cumprindo pena no regime semiaberto - Nakayama está otimista. "Além de minha liberdade definitiva, quero reconquistar o respeito da sociedade, família, amigos, o que, por meio do Enem, acredito ser o primeiro passo para essa conquista", escreveu ele, em entrevista por e-mail. "Depois que eu ganhar a liberdade, quero reconstruir minha vida, por meio do trabalho e do estudo", completa.

A lei não prevê a possibilidade de remissão de pena para quem estuda. Mas, segundo a Fundação de Amparo ao Preso (Funap), alguns juízes passaram a equiparar o esforço nas salas de aula ao trabalho: três dias de estudos, um a menos na prisão.

As escolas nas unidades prisionais do Estado têm cerca de 15 mil alunos, de um total de 150 mil detentos.