Título: Cade deve propor separação até julgar a fusão
Autor: Aragão, Marianna; Cançado, Patrícia
Fonte: O Estado de São Paulo, 05/12/2009, Economia, p. B6

Ex-dirigentes do órgão dizem que análise da fusão será um grande desafio para o Cade

O presidente da Latinlink Consultoria, Ruy Coutinho, prevê que o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) deverá propor ao Pão de Açúcar e às Casas Bahia a assinatura de um Acordo de Preservação de Reversibilidade da Operação (Apro) para manter a identidade das duas empresas até o julgamento da operação de compra das Casas Bahia pelo Pão de Açúcar.

Para Coutinho, ex-secretário de Direito Econômico e ex-presidente do Cade, o acordo deveria ser assinado assim que o negócio for notificado ao órgão - o prazo é de 15 dias úteis. O Apro é instrumento usado pelo Cade para garantir, em caso de rejeição da operação, que as empresas tenham condições de manterem, no futuro, suas atividades individualmente. O acordo garantiria, entre outras coisas, a manutenção das marcas, o número de lojas e os empregos.

Ele avalia que a análise da aquisição das Casas Bahia pelo Pão de Açúcar será um grande desafio para o Cade. "É uma operação bastante importante" afirmou. Segundo Coutinho, a análise terá de ser cuidadosa para se chegar ao chamado "efeito líquido" da operação - definir os ganhos de escala, reduções de custos e preços e os danos à concorrência.

Ex-conselheira do Cade, a economista do Ipea Lucia Helena Salgado classificou o negócio entre Pão de Açúcar e Casas Bahia como "operação de conglomerado" e não acredita que haverá grandes dificuldades para a sua aprovação pelos órgãos de defesa da concorrência.

"Embora sejam empresas de varejo, elas atuam em mercados de natureza muito diferente. Grandes redes de varejo que ampliam o portfólio aumentam também o seu poder de barganha com os fornecedores, o que acaba sendo benéfico, pois a redução de custos é repassada na queda de preços ao consumidor", explicou a economista.

Ex-titular da Secretaria de Direito Econômico, o economista Claudio Considera tem opinião semelhante. Ele ressalta que fornecedores podem contestar a operação, alegando concentração de empresas compradoras. "Mas é um argumento fraco, pois há uma grande quantidade de varejistas, inclusive via internet", disse Considera.

Para ele, a opção da nova empresa deve ser operar como grupo único com os fornecedores e manter a atuação aparentemente independente com consumidores, mantendo certa individualidade entre Pão de Açúcar, Ponto Frio - recentemente comprada pelo grupo da família Diniz - e Casas Bahia. "Me parece que, para o Pão de Açúcar, interessa manter essa individualidade", afirmou o economista.

Lucia Helena destaca apenas um aspecto negativo na operação: o fato de o Pão de Açúcar já ter adquirido o Ponto Frio.