Título: Grupo vai controlar 70% do mercado de eletrodomésticos de São Paulo
Autor: Aragão, Marianna; Cançado, Patrícia
Fonte: O Estado de São Paulo, 05/12/2009, Economia, p. B6

Segundo analistas, o Cade pode interpretar essa concentração como monopólio no mercado local

Marianna Aragão, Patrícia Cançado, Paula Pacheco e Raquel Landim

Juntas, as Casas Bahia e o Ponto Frio dominarão mais de 70% das vendas de linha branca no Estado de São Paulo, um dos maiores mercados consumidores do País. A estimativa, do Programa de Administração do Varejo (Provar), da Fundação Instituto de Administração (FIA), foi feita com base nos números do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e no faturamento das companhias. A atuação dos dois grupos é especialmente forte na Região Sudeste, segundo o professor Nuno Fouto, da Provar. No Nordeste e no Sul, as redes locais ainda têm participação relevante no mercado.

Esse nível de concentração pode ser entendido pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) como monopólio. Um conselheiro afirmou que a análise da operação deverá ser muito cuidadosa, porque "a primeira impressão é de um movimento de concentração acentuado do varejo". Embora afirme que a operação não sofrerá resistência no órgão regulador, o Grupo Pão de Açúcar já contratou escritórios de advocacia para cuidar da questão.

A distância entre as Casas Bahia e os concorrentes já era grande. A união com o Ponto Frio a tornou ainda maior. A nova empresa, que tem um faturamento bruto de R$ 18,1 bilhões, é seis vezes maior que sua principal concorrente, a Magazine Luiza, que não quis comentar a operação e sua nova posição no ranking varejista do País.

Além da rede da empresária Luiza Trajano, restaram grupos menores, que começaram com atuação regional e se expandiram nos últimos anos. É o caso da Ricardo Eletro, que nasceu em Minas Gerais e tem atualmente 250 lojas, ou das Lojas Colombo, com forte presença no Sul e cerca de 300 lojas.

"Nossos planos permanecem inalterados", afirma o presidente das Lojas Colombo, Adelino Colombo. Para Ricardo Nunes, presidente da Ricardo Eletro, a concentração de mercado no varejo já é uma realidade. O negócio de ontem apenas acelera esse movimento. "Nós não estamos conversando com ninguém, mas já fomos procurados por fundos de investimento." Segundo ele, "o varejo é a área que mais vai crescer nos próximos dez anos."

Para ele, a concentração acirrou a concorrência. "Já sofríamos com a briga no varejo. A concentração tem levado a todo tipo de negócio, racional e irracional". Segundo o empresário, um dos reflexos da "irracionalidade" é a guerra por prazos mais longos no pagamento. "A briga no varejo acontece todo dia. Temos uma vantagem, que é o fato de sermos menores e com operação muito enxuta. Fica mais fácil tomar decisões."

A estrutura menor também é vista como vantagem na briga pelo mercado, diz o supervisor geral das Lojas Cem, José Domingos Alves. Especializada em móveis e eletrodomésticos, a rede tem cerca de 180 lojas em São Paulo, Rio, Paraná e Minas Gerais e fatura R$ 1,6 bilhão. "Conseguimos custos operacionais diferenciados, de acordo com o tamanho e localização da loja." Além disso, a ausência de endividamento permite um bom poder de barganha nas negociações com os fornecedores que, segundo Alves, "não podem ficar só com os grandes."

Para a fabricante de celulares Sony Ericsson, a união anunciada ontem foi uma "surpresa positiva". "Mas não podemos menosprezar a importância das redes regionais", diz a diretora de marketing Flávia Molina. A Mabe, dona das marcas Dako e GE no Brasil, também vê com bons olhos a operação. "Vai gerar oportunidades para todos os parceiros envolvidos", diz presidente da Mabe no Mercosul, Patrício Mendizábal.

EMPREGO

A compra das Casas Bahia pelo Pão de Açúcar também preocupa os trabalhadores. A Força Sindical, que concentra praticamente todos os sindicatos de empregados no comércio do Estado de São Paulo, vai encaminhar um pedido ao Cade para acompanhar o processo com atenção especial às possíveis demissões, depois de colocadas em prática as conhecidas sinergias. "Toda vez que há fusão entre duas empresas grandes a tendência é tirar emprego", diz Paulo Pereira da Silva, presidente da central.