Título: Não tive contato nenhum com Arruda
Autor: Costa, Rosa
Fonte: O Estado de São Paulo, 06/12/2009, Nacional, p. A6

Empresário que vendeu apartamento de R$ 1,5 milhão conta que só na escritura soube que ele era o verdadeiro comprador

Avaliado em R$ 1,5 milhão, o apartamento de 245 metros quadrados localizado em uma das quadras mais valorizadas da Asa Sul de Brasília passou para o nome de José Roberto Arruda em 1992, quando ele era o secretário de Obras do Distrito Federal e responsável pela construção do metrô da cidade. O pagamento foi em dinheiro vivo e seguiu um padrão que o governador usa: terceiros negociam e só depois a propriedade é registrada em seu nome. O empresário Hassan Gasel Khodr, ex-dono do imóvel, conta que acertou a venda com um "engenheiro ou arquiteto" chamado Roberto. "Não tive nenhum contato com Arruda", diz ele, em entrevista ao Estado.

Como foi feita a venda de seu apartamento da 114 sul, em 1992?

Vendi para uma pessoa que se chamava Roberto, que se dizia engenheiro ou arquiteto, não me lembro bem agora. Foi uma venda normal. Ele viu o apartamento quando eu não estava em casa. Foi com um corretor e, passados alguns dias, ele se dispôs a pagar o preço que eu pedia na época. Foi feito um instrumento particular de compra e venda normal, onde me comprometi a entregar o apartamento em 30 dias, ocasião em que ele pagaria. Tudo isso aconteceu: deu um sinal e, passados 30 dias, me pagou tudo. Mas não foi feita a escritura. Roberto, me pediu, passado algum tempo, que eu transferisse o apartamento para um amigo dele. Falei que não tinha porque não passar, já que estava vendido.

Qual foi o motivo alegado por Roberto para não registrar em seu nome?

Que ele estava se separando da esposa e, por questões particulares, preferia passar para um amigo. Depois ele me falou até que vendeu. Me lembro, agora, que ele falou: "Eu vendi, não vou ficar com o apartamento, não vai dar, eu voltei com minha mulher." Não me lembro qual foi a história toda que ele contou. Sei que me perguntou se eu não me importava de passar para essa pessoa. Disse que não, pois eu já não estava de posse do apartamento, já tinha recebido o valor.

A escritura foi assinada no cartório?

Não, foi feita na minha residência. Um oficial do cartório foi até lá porque a minha mulher estava grávida e era uma gestação de risco. Ele (Roberto) se dispôs a ir junto com o corretor, que eu também não lembro o nome. A empresa era a Contrata. Ele perguntou se eu podia fazer a escritura em casa e eu disse que não havia problema. Era muito melhor, mais cômodo.

Como é que o senhor soube que o então secretário Arruda já tinha ido olhar o apartamento.

Como eu disse, eu não tive contato em momento nenhum com ele. Ele foi ver o apartamento no horário em que eu estava no trabalho. Fiquei sabendo mais tarde que quem acompanhava esse tal de Roberto que comprou o apartamento era o Arruda. Fiquei sabendo pelo porteiro e, na época, eu até duvidei. Só comprovei a história do porteiro, que se chamava Bartolomeu, na hora de assinar a escritura. Ele ficava brincando comigo na portaria e dizia: "Olha, você vendeu o apartamento para o Arruda." Eu dizia que não, que vendi para o Roberto, que ele estava confundindo o nome. Mas realmente o porteiro tinha razão. Na hora da escritura é que eu fiquei sabendo que era para ele.

Quando é que o então secretário Arruda foi conhecer o imóvel?

A informação que tive foi que a pessoa interessada foi lá acompanhada de um engenheiro ou de um arquiteto para ver o meu apartamento, mas eu não sabia quem era. Depois é que fiquei sabendo quem era o comprador. O porteiro sabia porque estava na portaria, viu o Arruda.

Como o apartamento foi pago?

Em dinheiro. Naquela época se fazia em dinheiro. O valor eu não sei mais, passaram-se 17 anos. Eu mudei de casa algumas vezes, me desfiz do instrumento que foi feito na época. Acho que nessas mudanças o documento se perdeu. Fiz uma operação normal na venda de um imóvel. Se essa pessoa passou para outra, aí tem outra história, que não me diz respeito.