Título: Montagem de novo comando divide PT
Autor: Rosa, Vera
Fonte: O Estado de São Paulo, 06/12/2009, Nacional, p. A12

Grupo de Marta Suplicy quer tirar Secretaria-Geral da ala de Tarso

A montagem da nova Executiva Nacional do PT já provoca queda de braço entre as correntes petistas nos bastidores. As divergências ocorrem na antessala do ano eleitoral de 2010, quando o partido terá o maior desafio de seus 30 anos de história: emplacar a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, no Palácio do Planalto. Escudados no fortalecimento obtido na eleição direta, com voto dos filiados, que escolheu José Eduardo Dutra para presidir o PT, discípulos da ex-prefeita Marta Suplicy querem tirar o cargo de secretário-geral - o segundo na hierarquia partidária - do grupo do ministro da Justiça, Tarso Genro.

"Nós defendemos a proporcionalidade e, por esse critério, a nossa chapa deve ficar com os três postos estratégicos, que são Finanças, Secretaria-Geral e Organização", afirmou o deputado Jilmar Tatto (SP), da corrente PT de Lutas e de Massas (PTLM). "Não vamos tensionar, mas é uma questão de justiça."

O grupo de Tatto e a ala Novo Rumo - que giram como satélites em torno de Marta - fecharam acordo com a tendência Construindo um Novo Brasil (CNB), do ex-ministro José Dirceu, para apoiar Dutra. Eles negam ter feito qualquer exigência, mas o comentário nos corredores do PT é de que pediram a Secretaria-Geral, hoje ocupada pelo deputado José Eduardo Martins Cardozo (SP). Em conversas reservadas, o nome mais citado para o lugar de Cardozo é o do deputado Rui Falcão, líder do PT na Assembleia paulista.

Aliado de Tarso, principal desafeto de Dirceu no mosaico ideológico do petismo, Cardozo faz de tudo para passar longe da polêmica. "É natural que as correntes indiquem os cargos dentro da correlação de forças obtida com o resultado eleitoral", amenizou. Tanto ele como sua chapa, Mensagem ao Partido, ficaram em segundo lugar na configuração petista que saiu das urnas após a eleição do último dia 22.

Na dança das cadeiras da Esplanada, o secretário-geral do PT também tem o nome lembrado para substituir Tarso, que deixará a Justiça para concorrer ao governo gaúcho, em 2010. Talvez por isso não queira encrenca.

PACTO

Vitorioso na disputa interna, o grupo de Dutra - o mesmo de Dirceu e do presidente Lula - terá direito a 10 das 21 cadeiras da Executiva do PT . Poderá ocupar, ainda, 45 dos 81 assentos do Diretório Nacional. Com o apoio das facções PTLM e Novo Rumo, a corrente praticamente ressuscitou o antigo Campo Majoritário, que deteve a hegemonia no comando petista até 2005, quando estourou o escândalo do mensalão.

Embora seguidores de Marta reivindiquem a Secretaria-Geral, Dutra tem dito que, para unificar o partido em 2010, a discussão precisa ser mais política do que numérica. "A meta do PT é se preparar para eleger a companheira Dilma. Não há definição sobre nenhum cargo na direção do PT", insistiu Dutra. "Este é o momento de chamar todo mundo para um pacto de unidade. Não existe tendência que construa o PT sozinha", emendou Francisco Rocha, coordenador da tendência CNB.

O embate, no entanto, continua longe dos holofotes. O deputado João Paulo Cunha (SP), réu no processo do mensalão, é cotado para a Secretaria de Comunicação do PT, que terá forte influência na campanha de Dilma. João Paulo, hoje, já integra o Grupo de Trabalho Eleitoral do partido, a exemplo do que fazia em outras campanhas de Lula.

TESOUREIRO

Se não houver imprevisto de última hora, também está certo que o ex-secretário-geral da CUT João Vaccari Neto será o tesoureiro do PT. Alvo dos adversários no escândalo do mensalão, a gestão da Secretaria de Finanças - que na crise foi dirigida por Delúbio Soares - preocupa o governo.

Vaccari é homem da confiança de Lula, como Delúbio, e ajudou a arrecadar doações para várias campanhas do petista, incluindo a última, de 2006. Segundo suplente do senador Aloizio Mercadante (PT-SP), o sindicalista enfrenta investigação no Ministério Público sobre desvios de recursos da Bancoop, a cooperativa habitacional dos bancários, para o PT. "Isso já foi profundamente investigado e reinvestigado. Não há nenhuma irregularidade", garantiu o presidente do PT, deputado Ricardo Berzoini (SP).

Na prática, porém, o que pode impedir a ida de um ou outro nome para a Executiva é muito mais o caráter regional do que o ético. No confronto entre as facções, petistas lembram que São Paulo já tem vários assentos no comando partidário e querem ampliar a direção para além das fronteiras do Sudeste.