Título: Pão de Açúcar tem 50% do mercado de grandes marcas
Autor: Chiara, Márcia De
Fonte: O Estado de São Paulo, 06/12/2009, Economia, p. B14
Com a compra das Casas Bahia, grupo aumenta poder de negociação com fabricantes de eletrodomésticos
A união das redes varejistas Ponto Frio, Casas Bahia e Extra Eletro vai dificultar a vida dos fabricantes de geladeiras, máquinas de lavar e TVs, entre outros eletrodomésticos e eletrônicos. A nova gigante do varejo, que nasce com faturamento de R$ 18,5 bilhões e 1.015 lojas, além das vendas online, deverá negociar em média metade dos volumes produzidos por grandes fabricantes, como Whirlpool, Electrolux, Samsung, LG e Philips.
Segundo cálculos de executivos de indústrias e especialistas do mercado varejista ouvidos pelo Estado, a participação da nova gigante do varejo nas vendas da produção desses fabricantes poderá oscilar entre 40% e 60%, dependendo da empresa. O presidente do conselho do Programa de Administração de Varejo (Provar) da Fundação Instituto de Administração (FIA), Claudio Felisoni, considera esse cálculo razoável, levando-se em conta que só na cidade de São Paulo as Casas Bahia, antes da fusão, detinham 56% das vendas ao consumidor de eletrodomésticos e 61% das de eletroeletrônicos.
O poder que a megaloja terá nas negociações com a indústria é nítido para o presidente do Conselho de Administração da nova rede varejista, Michael Klein. "Juntos teremos um poder maior diante da indústria", afirmou na sexta-feira, durante o anúncio do negócio. Em seguida ele fez uma ponderação, acrescentando que o desconto obtido nos preços da indústria será repassado ao consumidor.
Na sexta-feira, a apreensão dos fabricantes, surpresos com a notícia da criação de uma empresa gigante em plena cerimônia de inauguração da Super Casas Bahia, em São Paulo, era visível. "Esse é o tipo de notícia que a gente precisa respirar fundo e morder a língua antes de falar alguma coisa", disse um executivo da indústria, presente à festa de inauguração.
Outro executivo da indústria abordado pelo Estado na festa disse que a notícia da união das duas empresas era notícia velha. Ele confundiu o novo negócio com a compra do Ponto Frio pelo Pão de Açúcar, fechada em junho. Mas quando entendeu que se tratava de uma nova aquisição, se mostrou perplexo.
"A indústria vai se ajoelhar", afirmou outro dirigente do setor, apreensivo com a nova condição dos fabricantes.
PREÇOS
O deslocamento do equilíbrio de forças nas negociações de preços da indústria para o varejo não é um movimento recente. Com a forte tendência de fusões dos últimos anos, o comércio ficou mais poderoso na hora de ir às compras, invertendo uma equação que antes era favorável ao setor produtivo.
No caso das Casas Bahia, a situação era ainda mais peculiar. Segundo especialistas em varejo, a empresa tem pesados custos de operação, cerca de 6% acima da média das empresas do setor.
Para manter a sua rentabilidade, ainda segundo os especialistas, a empresa pressionava os fornecedores para cortar preços. Com a nova companhia, que terá compras centralizadas, a perspectiva deve ser de generalização dessa prática.
Além dessa questão estrutural que tornava a negociação mais tensa, as Casas Bahia contavam com mais um ingrediente a seu favor. Saul Klein, filho do fundador das Casas Bahia, Samuel Klein, e que há dois meses vendeu a sua participação na empresa para o irmão Michael Klein, era o responsável pelas compras da rede.
De acordo com fontes do mercado, ele desempenhava na empresa a sua função de forma admirável. Com a saída de Saul da empresa, substituído pelo executivo Roberto Fulcherberguer, a indústria sentiu-se aliviada.
"É que Saul era o dono da companhia e seu poder de fogo era maior na hora de fechar negócio", disse uma fonte ligada à indústria. Ele contou que, certa vez, Saul deixou de comprar produtos de um grande fabricante durante um ano.
Para executivos do setor, Fulcherberguer, apesar de bom gestor, não teria a mesma autonomia do antecessor.