Título: Brasileiros têm US$ 3 bi retidos no exterior
Autor: Chade, Jamil
Fonte: O Estado de São Paulo, 05/12/2009, Nacional, p. A10
Recursos estão, principalmente, nos EUA, na Suíça e Ilhas Cayman
GENEBRA
Bancos no exterior têm US$ 3 bilhões bloqueados em nome de brasileiros suspeitos de corrupção, lavagem de dinheiro e de envolvimento no crime organizado. Esse dinheiro está depositado principalmente em instituições dos Estados Unidos, Ilhas Cayman e a Suíça.
As informações obtidas pelo Estado são do Ministério da Justiça, que começou a reunir dados sobre os valores congelados por tribunais estrangeiros. O montante surpreendeu as autoridades brasileiras.
No início de 2009, o Ministério da Justiça já havia indicado que havia obtido o bloqueio de cerca de US$ 2 bilhões em contas bancárias mantidas no exterior por pessoas envolvidas na Operação Satiagraha, da Polícia Federal. Cerca de US$ 500 milhões estavam nos Estados Unidos. Mas a quantia chegaria a US$ 3 bilhões, incluindo o dinheiro de outros escândalos de corrupção.
Romeu Tuma Júnior, secretário nacional de Justiça do ministério, confirmou o valor e disse que o governo vem negociando com as formas de recuperar o dinheiro. Segundo ele, as contas bloqueadas no exterior não estão apenas relacionadas à corrupção. "Outra parte importante é o crime organizado urbano que tem também suas ramificações no exterior", afirmou.
Até o Primeiro Comando da Capital (PCC) chegou a ter recursos investigados. Não houve comprovação de que o dinheiro que mantinha o grupo esteja no exterior.
Segundo Tuma, a estratégia do governo é a de reforçar o pedido pelo bloqueio de fundos no exterior e, em um segundo momento, lançar uma ofensiva para repatriar os recursos. "Só lidaremos realmente com o crime organizado quando sua base financeira for desmantelada e, hoje, parte dessa base está no exterior", explicou.
Em janeiro, o Ministério Público da Suíça identificou contas de pessoas acusadas e aceitou cooperar com o Brasil. "O bloqueio se refere às pessoas relacionadas com a Operação Satiagraha no Brasil", disse Walburga Bur, porta-voz do Ministério Público da Suíça. Ela confirmou que o governo tinha o direito de pedir retorno dos ativos.
Um grupo de investigadores suíços chegou a viajar ao Brasil para tratar do assunto e a cooperação entre os dois países tem sido intensa. Na semana passada, o tema voltou para agenda de reuniões entre técnicos brasileiros e suíços.
Na Suíça e em Jersey, a família de Paulo Maluf ainda conta com recursos bloqueados. Em abril deste ano, o juiz Michael Birt, de Jersey, aceitou a acusação das partes brasileiras e congelou US$ 22 milhões em ações que supostamente pertencem a empresas da família Maluf, que nega irregularidades. O dinheiro seria parte do esquema que desviou recursos públicos nos anos 90. Os recursos bloqueados estão nas seguintes contas: 02JCR332164 e 02JCR332126, em Jersey. O nome do banco é mantido em sigilo. Já o Deutsche Bank ainda chegou a acordo com o Ministério Público paulista para devolver aos cofres públicos US$ 5 milhões que estavam em contas de Maluf. Na Suíça, familiares do ex-prefeito têm contas congeladas.