Título: Denúncia apontou desvio de estatais para campanha
Autor: Siqueira, Chico; Lessa, Fátima
Fonte: O Estado de São Paulo, 05/12/2009, Nacional, p. A8

O chamado mensalão mineiro, segundo investigações da Polícia Federal e do Ministério Público, era um esquema de caixa 2 que, em 1998, desviou recursos de empresas estatais para a campanha de reeleição do tucano Eduardo Azeredo, então governador de Minas Gerais.

O operador do esquema era o publicitário Marcos Valério, que mais tarde, em 2005, seria flagrado no centro do escândalo do mensalão petista, que abalou o primeiro mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Em Minas, de acordo com as investigações, Valério se utilizava de suas empresas de publicidade para captar empréstimos em bancos e, com os recursos, alimentava as campanhas do governador e de seus aliados. Em troca, recebia recursos de estatais mineiras. O dinheiro deixava os cofres das empresas com a falsa justificativa de patrocínio a eventos esportivos. Em valores atualizados, o desvio das estatais chega a cerca de R$ 10 milhões.

Em 2007, o então procurador-geral da República, Antonio Fernando de Souza, denunciou Azeredo e outras 14 pessoas por peculato e lavagem de dinheiro. Na época, disse que o esquema em Minas Gerais funcionou como "laboratório" para os desvios ocorridos posteriormente em âmbito nacional em torno do PT.

Valério evitou usar o termo "mensalão" na denúncia, diferentemente do que fez ao levar ao Supremo Tribunal Federal o caso que envolveu o PT e a base aliada do governo Lula. Citou o caso de Minas apenas como "esquema criminoso".

Em maio deste ano, o STF desmembrou o inquérito do mensalão mineiro para analisar somente a denúncia contra Azeredo. Os outros 14 acusados serão julgados pela Justiça de primeira instância. Entre eles estão o ex-vice-governador Clésio Andrade e o ex-ministro Walfrido dos Mares Guia (Turismo). DANIEL BRAMATTI