Título: Apetite de Prudente surpreende mensaleiros
Autor: Colon, Leandro
Fonte: O Estado de São Paulo, 05/12/2009, Nacional, p. A4
Em conversa com Maciel, Barbosa acusa deputado de extorsão e chega a chamá-lo de doido
BRASÍLIA
Relatório da Inteligência da Polícia Federal revela que até mesmo os operadores do "mensalão do DEM" constrangiam-se com o "apetite" do deputado Leonardo Prudente (DEM) sobre as licitações do governo do DF, a ponto de acusá-lo de "extorsão" e chamá-lo de "doido".
Aliado do governador José Roberto Arruda, apontado como o comandante do esquema de captação de propinas de empresas com contratos com o governo e distribuição de dinheiro a parlamentares da base aliada, Prudente teria tentado obter na marra contratos públicos ainda não licitados, mas prometidos a outros parceiros do esquema.
Diálogo gravado entre Durval Barbosa e o chefe da Casa Civil, José Geraldo Maciel, registra o modus operandi que irritou a "organização criminosa", segundo a definição do Ministério Público.
De acordo com relato de Maciel a Barbosa, o presidente licenciado da Câmara Legislativa teria pressionado para participar de uma licitação de instalação de câmeras de segurança pública já prometida para outro beneficiário do esquema. "Não aguento mais o Leonardo Prudente no meu calcanhar", desabafa Maciel. "Ele quer participar para forçar o outro a dar dinheiro para ele. Ele é doido", responde Barbosa, autor da gravação entregue a PF.
Empresário da área de segurança, Prudente, que foi filmado enchendo as meias com maços de dinheiro presenteados por Barbosa, também teria se intrometido numa reunião coordenada pelo ex-secretário com empresários do Paraná que combinavam antecipadamente o resultado de uma licitação para filmagem e segurança de aterros de lixo.
"Um dia desses ele fuçou aqui no lixo. Ele já tem uma parte do lixo, que é o lixo hospitalar. Aí ele quer câmera no lixo, monitoramente no lixo. Aí ele veio aqui e você precisa ver que constrangimento, o pessoal do Paraná aí... que ganhou, que tá ganhando a coisa, né, a licitação, e ele forçando a barra", relata Barbosa a Maciel. "É uma forma de extorsão", diz.
Diante da pressão de Prudente, Maciel combina com Barbosa em franquear a participação do parlamentar na licitação das câmeras de segurança, mas avisa que o deputado será excluído do "comando" da licitação.
Segundo Maciel, um parceiro do grupo, chamado apenas de Rodrigo nas gravações e ainda não identificado pela polícia, montaria o edital, etapa necessária para dar legitimidade e aparência de legalidade ao processo, e levaria o contrato.
Procurado ontem pela reportagem em seu gabinete e na empresa de segurança de sua família, o deputado não foi localizado nem respondeu as ligações.