Título: Secretário da ONU defende emergentes
Autor: Balazina, Afra ; Netto, Andrei
Fonte: O Estado de São Paulo, 09/12/2009, Vida&, p. A18

Para De Boer, países devem receber dinheiro para ações contra desmate

A proposta da União Europeia de vetar repasses de recursos públicos dos fundos de Mitigação e de Adaptação para países emergentes, como Brasil, China, Índia e África do Sul, foi criticada ontem, em Copenhague, pelo secretário-geral do Painel do Clima da ONU, Yvo de Boer. Para ele, esses países devem, sim, receber dinheiro para ações de combate ao desmatamento, por exemplo. Mas a verba para adaptação deveria ser concentrada em nações mais vulneráveis, disse.

O plano da UE de excluir emergentes da partilha de recursos, que vem sendo costurado nos bastidores, foi revelado ontem pelo Estado. Segundo De Boer, a discussão "é uma questão recente, que exige uma resposta nova" dos negociadores. Em entrevista coletiva, ele defendeu a reforma dos atuais mecanismos financeiros, mas disse que Brasil, China e Índia devem ter acesso a financiamentos para suas ações.

De Boer defendeu a melhor distribuição dos recursos, reequilibrando a relação entre emergentes e vulneráveis. "No mecanismo que temos no Protocolo de Kyoto, chamado Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL), 80% dos recursos financeiros vão para oito países (entre eles o Brasil)", declarou.

O secretário-geral disse que "nações maiores" são mais capazes de atrair capital privado e que "países pequenos, em especial os da África, precisam de mais recursos públicos".

Para o executivo, a proposta que mais agrada na conferência é a que os recursos do Fundo de Adaptação beneficiem, em especial, "países e comunidades mais vulneráveis".

Por outro lado, segundo ele, nações como Brasil e Índia deveriam, sim, receber dos industrializados recursos para ações de mitigação. Um exemplo foi o combate ao desmatamento e os projetos de conservação de florestas - programas que interessam ao Brasil. O secretário admitiu, no entanto, que sua posição ainda não é consensual.

Embora a delegação brasileira não tenha se manifestado sobre o tema, uma fonte diplomática já havia afirmado ao Estado que o Brasil acha mais importante garantir financiamento para projetos de mitigação do que obter recursos para adaptação.

Ontem, o governo brasileiro reagiu à proposta negociada nos bastidores. Após reunião no Palácio do Planalto entre os ministros Dilma Roussef (Casa Civil), Carlos Minc (Meio Ambiente), Sérgio Rezende (Ciência e Tecnologia) e Franklin Martins (Secretaria de Comunicação da Presidência), o negociador brasileiro em Copenhague, Luiz Alberto Figueiredo, foi orientado a se reunir com os outros 19 emergentes para endurecer o diálogo.

Minc disse não acreditar que a proposta dos desenvolvidos se mantenha. "Se for assim, não teremos acordo."

Ambientalistas acreditam que o Japão e outros países industrializados podem anunciar números de financiamento, mas devem esperar até a próxima semana, quando ministros e presidentes estarão na conferência do clima. A avaliação das ONGs é que esse tipo de anúncio pode destravar o acordo. A.B. e A.N.