Título: Amorim admite hipótese de reconhecer Lobo
Autor: Marin, Denise Chrispim
Fonte: O Estado de São Paulo, 11/12/2009, Internacional, p. A13

Ministro fala em mudar de posição ao menos no longo prazo e critica governo de facto por situação de Zelaya

O Brasil deu claros sinais de que pretende se descolar de seus aliados da Alba (Alternativa Bolivariana para as Américas) na solução da crise política hondurenha. Ontem, em entrevista ao programa Bom Dia, Ministro, da estatal EBC, o chanceler Celso Amorim afirmou que agora a prioridade brasileira é "garantir a saída" de Manuel Zelaya de Honduras. Indicou ainda que o País poderá reconhecer o presidente eleito dia 29, Porfírio "Pepe" Lobo, em médio ou longo prazo.

Diplomatas brasileiros acrescentaram que a condenação ao golpe de Estado e ao regime de facto logo no início da administração de Lobo, que tomará posse em 27 de janeiro, abriria uma porta para o reconhecimento de sua legitimidade.

"Nós não temos nenhuma intenção de reconhecer essas eleições em curto prazo", afirmou o ministro, ao suavizar a posição anterior do governo. "Mas nos interessa muito que o presidente Zelaya possa sair em segurança e a nossa embaixada não seja de maneira nenhuma atacada." O governo de facto insistiu ontem que o Brasil deve definir o status de Zelaya na embaixada. O governo brasileiro diz que Zelaya é um "hóspede".

"FUI SURPREENDIDO"

Essas posições foram assinaladas logo após Amorim ter sido informado do fracasso da operação de transferência de Zelaya para o México. "Eu confesso que acordei hoje pensando que o Zelaya já estaria no México e fui surpreendido com a notícia de que tinha havido essa dificuldade por uma exigência absurda."

Horas depois, no Itamaraty, Amorim foi confrontado com a posição mais radical do grupo de países liderados pela Venezuela, que ainda insiste na restituição de Zelaya ao poder. Essa posição tende a ser reforçada neste final de semana, em Cuba, durante a Reunião de Cúpula da Alba. Ao final da visita a Amorim, o chanceler da Venezuela, Nicolás Maduro, reiterou essa intenção.

Mas insistiu na necessidade de realização de novas eleições em Honduras e de uma Assembleia Constituinte, bem como no não-reconhecimento de Porfírio Lobo. "Como se pode confiar na palavra de um presidente nomeado em uma eleição fraudulenta, que reconheceu o golpe de Estado e negociou o acordo Tegucigalpa-San José, mas logo em seguida o descumpriu?", declarou Maduro.

MERCOSUL

Segundo Amorim, Zelaya havia pedido aos governos brasileiro e argentino ajuda para transferir-se a outro país. Teria sugerido o México, que aceitou o encargo. A gestão dessa operação foi finalizada em paralelo à Cúpula do Mercosul, nos dias 7 e 8, no Uruguai - que contou com a presença da chanceler mexicana, Patrícia Espinosa. O Brasil, segundo Amorim, não consultou os EUA.

Para Amorim, as exigências do governo de facto que levaram ao fracasso da operação tratou-se de uma tentativa de "humilhar, de querer esmagar" Zelaya. "Nunca vi algo semelhante. Isso apenas demonstra a total marginalidade desse governo de facto em relação às normas internacionais."

POSIÇÃO

Celso Amorim Ministro das Relações Exteriores "Estamos interessados em que o presidente Zelaya possa sair em segurança e nossa embaixada não seja atacada"

"Nunca vi algo semelhante. Isso apenas demonstra a total marginalidade desse governo em relação às normas internacionais" (Sobre recusa do salvo-conduto a Zelaya)