Título: PIB de 2009 deve ficar estagnado
Autor: Graner, Fabio ; Fernandes, Adriana
Fonte: O Estado de São Paulo, 11/12/2009, Economia, p. B6

Segundo analista, País precisa crescer ao menos 5% no 4.º trimestre [br]para resultado anual ficar em zero

Entrevista Sérgio Vale: Economista-chefe da MB Associados

O economista-chefe da consultoria MB Associados, Sérgio Vale, calcula que, para o Produto Interno Bruto (PIB) encerrar 2009 no "zero a zero", o crescimento no último trimestre deve ser de, no mínimo, 5% em relação ao mesmo período do ano passado. "Não é muito diferente da nossa projeção."

Quanto o PIB tem de crescer no quarto trimestre para que o resultado no ano fique ao menos em zero na comparação com 2008?

Precisamos crescer em torno de 5% em relação ao quarto trimestre do ano passado. Isso dá 2,5% na comparação com o terceiro trimestre deste ano. Não é muito diferente da nossa projeção, que é de 4,8% e 2,4%, respectivamente. Na nossa conta, o PIB do ano fechado cai 0,1%.

Em 2009, portanto, o PIB deve ficar estagnado.

Sim, mas, se considerarmos as expectativas negativas do início do ano, é um número bastante razoável. Tinha gente que previa queda de até 2%, 3% e 4%. O que vimos foi uma reativação forte da economia, por causa das políticas monetária e fiscal. O quarto trimestre deve ser bastante forte.

O sentimento no mercado financeiro foi de frustração. Mas é um PIB para deixar as pessoas frustradas?

Não é o PIB da frustração. Digamos que é um PIB inesperado, porque o IBGE fez algumas mudanças normais, divulgadas no terceiro trimestre de cada ano. Mas, desta vez, talvez foram um pouco além do que se imaginava. Por causa disso, tivemos essa revisão um pouco mais forte.

Quais os efeitos desse PIB, por exemplo, do ponto de vista da taxa de juros?

O dado concreto que esse PIB traz - e os números do primeiro e segundo trimestres também - é que a economia está crescendo em ritmo mais fraco do que se esperava. Ela está se arrastando de uma forma mais lenta do que todo mundo imaginava. Há duas consequências disso. Primeiro, a questão sobre juros vai arrefecer. A discussão sobre a Selic (taxa básica de juros) subir no primeiro semestre de 2010 vai desaparecer um pouco. Com um PIB em ritmo tranquilo e entrando o ano ainda fraco, fica difícil o Banco Central ter argumentos concretos para mexer na Selic antes do primeiro semestre. Nossa projeção, de a Selic mudar a partir de outubro do ano que vem, está mantida.

Qual a outra consequência?

O perigo de o governo interpretar esse PIB da forma errada. Eles podem pensar que o crescimento foi muito fraco até agora e, por isso, precisamos de mais política fiscal para estimular a economia. Não é bem assim. Talvez a gente não precise mais de política fiscal. O que vai acontecer é que a política monetária (taxa de juros) ficará mais tempo flexível como está agora. Política fiscal por meio do aumento de gastos, como o governo tem feito, e um crescimento maior das desonerações vão trazer prejuízos para o próximo presidente. Não é só a questão fiscal que preocupa agora. Temos um déficit em conta corrente cada vez maior. Essas duas coisas em conjunto não costumam andar bem em economia. Qualquer crise que tiver lá fora pode afetar nossa confiança aqui por causa dessas duas situações.

A consultoria já incorporou aos seus modelos de previsão a nova metodologia do IBGE?

Sim. Os dados já estão completamente incorporados nas projeções para 2010. Mesmo assim, mantivemos nossa projeção de expansão de 5% do PIB. Esses números mostram que a economia não está retomando no ritmo que se imaginava. Por isso, não dá para imaginar que teremos um tranco de crescimento tão intenso em 2010. Portanto, as projeções que apontavam expansão de até 7% no ano que vem devem se mostrar exageradas.