Título: Nova sede da Câmara Distrital custará 323% além do orçado
Autor: Domingos, Joao
Fonte: O Estado de São Paulo, 10/12/2009, Nacional, p. A8
Previsão era gastar R$ 23,6 milhões na obra, mas custo final deve chegar a R$ 100 milhões
A nova sede da Câmara Distrital de Brasília, que tem pelo menos 9 dos 24 deputados envolvidos no escândalo do "mensalão do DEM", teve o custo aumentado em 323%. Quando o edital foi lançado, em 2001, a previsão era gastar R$ 23,6 milhões na obra. No próximo mês de fevereiro - para quando está prevista a inauguração - o orçamento final deve chegar a R$ 100 milhões, conforme os últimos cálculos feitos pela Secretaria de Obras do governo do Distrito Federal.
A explicação para o estouro do orçamento é que o projeto inicial previa uma obra acanhada, sem garagem. Depois, de revisão em revisão, o prédio ganhou um heliponto, mais um auditório e estacionamento para cerca de 1 mil veículos, além de 30 gabinetes para os deputados distritais. Atualmente, são 24 parlamentares, mas se presume que, com o aumento da população, possam chegar a 30 nas próximas eleições.
A nova sede do Legislativo do Distrito Federal virou um prédio de luxo, com área construída de 48.670 metros quadrados, quatro pavimentos, piso de granito e paredes de vidro. Fica no Eixo Monumental, a avenida que - seguindo dois quilômetros rumo ao Congresso e Palácio do Planalto - se transforma na Esplanada dos Ministérios.
PLACAS DA OBRA
Hoje, quem passa pela avenida pode ler três placas, patrocinadas pelos futuros inquilinos, que soam como escárnio. "Aqui decidimos nosso futuro; Cidadania e dignidade como meta para toda a população; A casa do povo, a sua casa", dizem os outdoors em flagrante contraste com o escândalo do "mensalão do DEM". O governo de José Roberto Arruda está sob investigação da Operação Caixa de Pandora acusado de ser o chefe do esquema de cobrança e distribuição de propinas, envolvendo deputados e secretários.
Por causa das alegadas deficiências do projeto original e suspeita de superfaturamento levantadas pelo Tribunal de Contas do DF e pelo Ministério Público, as obras da Câmara ficaram paradas de 2004 a 2008.
Um acordo entre o governador Arruda, Câmara Legislativa, Ministério Público e Tribunal de Contas possibilitou o recomeço das obras, a cargo da Via Engenharia.
A construtora teria doado R$ 300 mil para a campanha de Arruda, conforme planilha do ex-secretário de Obras Márcio Machado, divulgada na sexta-feira pelo Estado. No dia seguinte à divulgação da planilha o secretário pediu demissão.
A Via Engenharia recusou-se a fazer comentários sobre a obra e, por meio da assessoria, informou que só a Secretaria de Obras poderia se manifestar. A secretaria disse que o prédio já consumiu R$ 95 milhões, devendo chegar a R$ 100 milhões com o acabamento. No momento, operários dão os retoques finais na obra, lavam os vidros em cor azul-fumê, terminam as calçadas e plantam o gramado.
Quando Arruda fez o acordo para a retomada das obras da Câmara Distrital, ficou acertado que em 2008 e 2009 cada um dos 24 deputados abriria mão de emendas parlamentares de R$ 1 milhão, em cada ano, para conseguir verba para a obra. Assim, a própria Câmara contribuiu com R$ 48 milhões para construção da nova sede. O governo entrou com o restante, totalizando R$ 54 milhões a verba para o novo prédio neste ano.
Antes de ser pego enfiando dinheiro nas meias - conforme gravação em vídeo feita pelo ex-secretário de Relações Institucionais Durval Barbosa -, o presidente da Câmara, deputado Leonardo Prudente (DEM), hoje licenciado, tinha grandes planos para a nova sede. Ele queria que a Casa tivesse espaço suficiente para guardar os veículos dos visitantes, que ficariam reunidos em grandes salões, de onde poderiam, na visão do parlamentar, fazer suas reivindicações.