Título: Obama avança em reforma da Saúde
Autor: Chacra, Gustavo
Fonte: O Estado de São Paulo, 10/12/2009, Internacional, p. A15

Senadores democratas cedem e aceitam ampliar participação privada; aprovação de presidente cai para 46%

A reforma do sistema de saúde nos EUA, uma das principais promessas de campanha do presidente Barack Obama, pode finalmente ser aprovada no Senado, caso dê certo o acordo entre senadores democratas anunciado na noite de terça-feira. Como Obama não impôs um projeto, qualquer texto aprovado seria uma vitória e contribuiria para reduzir sua queda de popularidade, que chegou ontem a 46%, segundo pesquisa da Universidade Quinnipiac.

Caso consiga reformar o sistema de saúde, o presidente terá pelo menos uma grande conquista para apresentar a cerca de um ano das eleições que devem renovar grande parte do Congresso.

Segundo o acerto, promovido pelo senador Harry Reid, líder do governo no Senado, a tendência é que o financiamento direto de um plano de saúde estatal para competir com o setor privado fique de fora da reforma. A chamada "solução pública" é criticada pelos setores mais conservadores do Congresso, mas apoiada de maneira intransigente pela esquerda do Partido Democrata.

Na terça-feira, Reid reuniu-se com dez senadores democratas - cinco moderados e cinco esquerdistas. O acerto prevê a criação de um plano de saúde nacional sem fins lucrativos administrado por uma agência do governo. Ele seria gerenciado nos moldes do setor privado, mas, sem a obrigatoriedade de lucro, seria possível torná-lo acessível a uma parcela maior da população e, assim, forçar para baixo os preços dos outros planos de saúde.

Os esquerdistas concordaram com a eliminação do financiamento público, enquanto os mais moderados aceitaram uma maior presença do governo no setor. Para compensar a ala mais à esquerda do partido, ficou acertado também que os cidadãos com mais de 55 anos poderiam optar por integrar o atual seguro público para idosos (Medicare) - atualmente, a idade mínima é de 65 anos.

"Em primeiro lugar, as seguradoras terão mais competição. Em segundo, os americanos terão mais alternativas", disse Reid. "Nem todos concordarão com todos os termos, mas acredito que conseguimos algo positivo. E isso leva a reforma adiante."

Não se sabe ainda quanto custará o novo projeto. Reid encaminhou a proposta para o Escritório de Orçamento do Congresso (CBO, na sigla em inglês), que dará uma estimativa de custo dentro de cinco dias.

O acordo tentou atrair os votos do senador independente Joe Lieberman e da republicana Olympia Snowe, que ameaçaram votar contra se a opção pública for incluída. O esforço, no entanto, não é garantia de voto. Lieberman e o democrata Ben Nelson, por exemplo, já disseram que só decidirão após a estimativa de custo ser divulgada. Ao todo, são necessários 60 votos para a aprovação do projeto sem a posição dos republicanos. Os democratas têm 58 senadores - 2 são independentes.

Mesmo que seja aprovado no Senado, o plano ainda terá um longo caminho pela frente. Em novembro, a Câmara aprovou uma proposta que previa a opção pelo financiamento público. Nos EUA, quando projetos semelhantes são aprovados nas duas Casas, é criada uma comissão mista para unificá-los. Como a questão é ainda mais delicada entre os deputados, será difícil uniformizar o texto para que ele seja novamente aprovado pela Câmara e pelo Senado.