Título: Direita amplia vantagem no Chile, indica pesquisa
Autor: Costas, Ruth
Fonte: O Estado de São Paulo, 10/12/2009, Internacional, p. A20

Sondagem mostra Piñera com 44% das intenções de voto, 13 pontos à frente do ex-presidente Eduardo Frei

A quatro dias das eleições chilenas, as últimas pesquisas davam ontem uma larga vantagem ao candidato direitista Sebastián Piñera. Essa é melhor chance da direita, desde o fim da ditadura de Augusto Pinochet (1973-1990), de vencer uma eleição presidencial no Chile. Segundo o Centro de Estudos da Realidade Contemporânea (Cerc), Piñera deve obter, no primeiro turno, 44% dos votos. O candidato e ex-presidente (1996-2000) Eduardo Frei, da Concertação - a coalizão de centro-esquerda que governa o Chile -, ficaria com 31% e o candidato Marco Enríquez-Ominami, independente, com 17,7%.

Já no segundo turno, de acordo com o Cerc, Piñera teria 49% dos votos e Frei, 32%. Carlos Huneeus diretor do Cerc - que é ligado a um partido governista - diz não descartar a hipótese de uma vitória da direita logo no primeiro turno. Outra pesquisa, do jornal El Mercúrio apontou Piñera com 38,2% das intenções de voto no primeiro turno e Frei com 22%. No segundo, o candidato conservador venceria por 42,5% a 34,4%.

Segundo analistas, a ascensão da direita chilena deve-se a dois fatores. O primeiro e mais importante é o desgaste da Concertação. Há duas décadas no poder, a coalizão não consegue renovar seus quadros. Além disso, nos últimos anos foi abalada por uma série de conflitos internos e rivalidades que culminaram, nestas eleições, no lançamento de três candidaturas diferentes da esquerda. Além de Frei, concorrem o cineasta Ominami, que rompeu com a Concertação para se lançar como independente, e o comunista Jorge Arrate.

O segundo motor da ascensão direitista está ligado ao fato de os partidos conservadores terem conseguido, ao menos até agora, fazer uma campanha se desvinculando das atrocidades da ditadura e enfatizando a necessidade de alternância de poder.

As propostas econômicas e de desenvolvimento são parecidas. Piñera, o favorito, promete criar mais condições para os investimentos, sem abrir mão dos projetos sociais da Concertação. Ele já concorreu à presidência em 2006, quando perdeu para Michelle Bachelet. Um dos empresários mais ricos do Chile, Piñera multiplicou sua fortuna criando várias companhias e comprando outras. Sua carreira política teve início quando ele elegeu-se senador em 1990.

"Mesmo que, no final, a esquerda volte a se unir para impedir a vitória da direita, ela terá de passar por uma fase importante de reformulação", disse ao Estado o historiador chileno Joaquín Fermandois." "Por isso, seja qual for o resultado, essa eleição será um divisor de águas na política chilena."

A repórter viajou a convite da Fundación Imagen de Chile