Título: Documento é visto como um ''passo à frente''
Autor: Netto, Andrei ; Balazina, Afra
Fonte: O Estado de São Paulo, 12/12/2009, Vida&, p. A26

Só países desenvolvidos criticaram acordo e pediram mais discussão

A proposta de um novo protocolo climático em Copenhague, apresentado ontem na 15ª Conferência do Clima (COP-15) das Nações Unidas, na Dinamarca, passou em sua primeira grande prova de resistência. Mesmo sendo alvo de críticas por parte de potências como EUA, China e Japão, o documento acabou saudado pela maior parte dos delegados como um "passo à frente" nas negociações.

Luiz Alberto Figueiredo, diretor do Departamento de Meio Ambiente do Itamaraty e um dos redatores do texto, mostrou-se satisfeito. "De modo geral, a recepção foi muito boa", garantiu, lembrando que os principais interesses do Brasil foram representados.

Para o secretário-geral, Yvo de Boer, o documento representa uma "mudança "nas negociações. "É tempo de nos focarmos nas questões mais relevantes", afirmou. Na mesma linha, Connie Hedegaard, presidente da COP-15, afirmou que as discussões "estão progredindo".

Entre as principais partes envolvidas, a União Europeia criticou a manutenção do Protocolo de Kyoto, definiu o texto como "desequilibrado" em favor de países em desenvolvimento, reiterou sua oposição ao repasse de recursos aos emergentes, mas não fechou as portas ao entendimento. "Acreditamos que um acordo completo seja possível até a próxima semana. Mas será necessário trabalhar duro", Anders Turesson, ministro de Meio Ambiente da Suécia.

Países como EUA, Austrália, Canadá, Japão, Rússia, Finlândia e Nova Zelândia também criticaram o texto. Todd Stern, enviado americano, se manifestou de forma ponderada. "Há sessões com os quais concordamos, sessões com as quais não concordamos, mas que julgamos estejam em um bom termo para as negociações."

Stern mencionou o ponto que classifica como mais crítico: a sessão sobre mitigação, que prevê o apoio financeiro dos países industrializados aos em desenvolvimento. Além disso, a Casa Branca não aceita que o texto se baseie na perspectiva de aumento da temperatura de 1,5° C - mas sim de 2° C - e descarta as metas americanas para além dos 17% de redução (em relação a 2005).

No Rio, o ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, disse que não é aceitável que países emergentes contribuam com o fundo global e defendeu metas comparáveis de redução de emissão de carbono entre os países. O ministro embarca hoje para a Dinamarca, acompanhando o presidente Luís Inácio Lula da Silva.

O QUE DIZ O RASCUNHO

Países devem cooperar para evitar o aquecimento global danoso e terão de decidir se vão ter como objetivo limitar o aumento da temperatura em relação ao período pré-industrial em 1,5°C ou em 2°C

Coletivamente, todos os países precisam reduzir as emissões de gases causadores do efeito estufa em no mínimo 50% até 2050, em relação a 1990

Os países desenvolvidos como grupo devem adotar um corte de emissões de pelo menos 75% até 2050, em relação a 1990

Há quatro opções em negociação para as nações industrializadas reduzirem as emissões individualmente até 2020: entre 25% e 40%; na ordem de 30%, 40% ou 45%, em relação a 1990

Os países em desenvolvimento, como a China, a Índia, a África do Sul e o Brasil, terão de fazer ações nacionais para cortar as emissões em relação ao projetado para 2020 se nada fosse feito. O grupo deve decidir sobre a porcentagem a ser reduzida - a sugestão é uma variação entre 15% e 30%

Para realizar essas ações, os países em desenvolvimento devem receber apoio dos países industrializados em financiamento, tecnologia e capacitação

Há duas opções na mesa sobre o financiamento para depois de 2013: a primeira é que somente países ricos serão financiadores; e a segunda, que todos os países, com exceção dos menos desenvolvidos, terão de financiar