Título: O PIB e a reação do Copom
Autor:
Fonte: O Estado de São Paulo, 12/12/2009, Economia, p. B2

Diante dos dados do PIB no 3º trimestre, com crescimento muito inferior ao previsto, o mercado considerou que haverá adiamento do aumento da taxa Selic para o fim do 1º semestre de 2010 ou, mais provavelmente, para o 3º trimestre - o que se refletiu no recuo das taxas de juros futuras.

Cabe avaliar se os dados do PIB justificam uma decisão dessa, sempre difícil, na medida em que as autoridades monetárias sabem que uma mudança da Selic demora quase seis meses para surtir efeito.

Dois fatores contribuíram para a reação do mercado: a Formação Bruta de Capital Fixo teve aumento de 6,5%, ante 2% no trimestre anterior; e a produção industrial, crescimento de 2,9%, ante 2,6%; enquanto o crescimento do consumo das famílias passava de 2,4% para 2% do 2º trimestre para o 3º trimestre.

O forte crescimento da indústria, o aumento dos investimentos e o menor crescimento do consumo das famílias justificaram a manutenção da taxa Selic. Note-se que, no acumulado do ano, em relação ao mesmo período de 2008, os investimentos foram 14,2% menores, a indústria de transformação cresceu 10,7% menos, enquanto o consumo das famílias crescia 2,8% e o da administração pública, 3,3%.

No 4º trimestre vai-se registrar um novo aumento do consumo das famílias em razão das festas do final do ano e, seguramente, um crescimento do consumo público. Essa evolução deverá ser mantida em 2010. É muito provável que a indústria continue a aumentar sua produção e seus investimentos e o Comitê da Política Monetária (Copom) acompanhe com cuidado o possível descasamento entre o consumo das famílias (que representa 63% do PIB) e a produção industrial, que depende dos investimentos, dando atenção especial ao consumo da administração pública (12,9% do PIB) e a seu financiamento.

Com efeito, um aumento do déficit e um maior endividamento externo se traduzem por elevação da taxa de juros. As necessidades de financiamento da economia, de R$ 10,9 bilhões no 3º trimestre de 2008, foram de R$ 12,2 bilhões no 3º trimestre de 2009, enquanto as transações passivas e o patrimônio líquido da economia nacional passaram, no mesmo período, de R$ 7,6 bilhões para R$ 50,1 bilhões. Tem de se levar em conta uma possível desvalorização do real, que teria um efeito muito grande sobre os preços.

Verifica-se, assim, que é imprudente prever a reação das autoridades monetárias.