Título: Ele aprendeu que não é divino, é humano
Autor: Mendes, Vannildo
Fonte: O Estado de São Paulo, 17/12/2009, Nacional, p. A10

O mais famoso marajá do País diz que restou do governo Collor só a "mediocridade de um político provinciano"

Entrevista Luiz Gonzaga Mendes de Barros: Advogado

Em entrevista ao Estado, Luiz Gonzaga Mendes de Barros definiu Fernando Collor como uma farsa política e disse que sua ascensão e queda deixaram a lição de que a democracia brasileira vingou. Ele diz não se incomodar com a pecha de marajá dada pelo ex-presidente. "Se ele queria me atingir, deveria me chamar de Collor".

Que lições a ascensão e a queda do governo Collor deixaram para o senhor, para o País e para o próprio ex-presidente?

Para mim, não significou nada. Tudo que restou daquele episódio foi a mediocridade de um político provinciano a quem faltava objetivos para se tornar um presidente. E o governo deu no que deu, um fiasco total. Para o País, a eleição do Collor também nada significou, a não ser a lição de que a democracia brasileira vingou. Agora todos sabem que a mesma democracia que permite a um retirante nordestino, como Lula, chegar ao poder, pode derrubar um presidente num processo de impeachment. O povo precisa cuidar bem desse regime. Para ele é que talvez tenha ficado a maior lição, pois aprendeu que não é divino, é humano: alimenta-se, defeca e erra como todo mundo. Só que não precisava errar tanto.

Seu estilo de vida atual preserva os hábitos de marajá?

Moro na orla de Maceió, a mais bela do planeta, Jatiúca. Vivo nos limites dos proventos e dos honorários da advocacia que exerço, com o mesmo estilo de sempre: simples, mas confortável. Por capricho do destino, compartilho da vizinhança da residência do ex-presidente (Collor) cassado por improbidade. Tendo sobrevivido a todas as campanhas contra mim, suponho que não seja eu o motivo de sugerirem a troca do nome do bairro para Carandiru.

Ao mesmo tempo em que ganha alto salário e ostenta estilo de vida burguês, o senhor ajudou a fundar o diretório do PT em Alagoas e criou a Associação dos Amigos de Cuba nos anos de chumbo. Como explica essa contradição?

Não há contradição alguma. Sou socialista por princípio. A riqueza do mundo tem que ser distribuída por todos que trabalham. Mas eu defendo os conceitos, não os governos socialistas, porque a maior parte não deu certo. O Stalin, por exemplo, era um bandido. O Hugo Chávez é ainda pior, pois além de bandido é imbecil.

Como o senhor convive com esse título de marajá conferido pelo Collor?

Ele foi infeliz na escolha do título, que evoca um príncipe, alguém reverenciado na cultura indiana. Se ele queria me atingir deveria me chamar de "Collor". Quanto ao salário, tudo que recebi até hoje foi justo pelo meu trabalho e legal. Nunca recebi um centavo fora da lei. Defendo bom padrão de renda para todos que trabalham no serviço público.

Na eleição de 1989, Collor chamava Sarney de ladrão e Lula de atrasado. Lula chamava Collor de picareta. Sarney chamava os dois de desequilibrados. Quem tinha razão e como o senhor vê o fato de estarem hoje de mãos dadas?

Eles se conhecem bem e sabem o que dizem um do outro.

Trata-se de matéria fecal sobre a qual só especialistas podem e devem se manifestar. Na minha opinião de leigo, mais parece uma virulenta pandemia que ataca prioritariamente os cofres públicos. V.M.