Título: Suíça condena brasileira a multa
Autor: Chade, Jamil
Fonte: O Estado de São Paulo, 17/12/2009, Internacional, p. A20

Paula Oliveira pagará até R$ 22 mil por mentir à Justiça

Dez meses depois de a advogada Paula Oliveira ter se declarado vítima de um suposto ataque neonazista, o Tribunal de Zurique condenou a brasileira a pagar até R$ 22.600 por induzir a Justiça ao erro. A juíza Nora Lichti-Aschwanden disse que a condenação deve servir de "lição" e decidiu devolver a Paula seu passaporte para que ela possa retornar ao Recife, sua cidade natal.

O ultradireitista Partido do Povo Suíço (SVP), cuja sigla Paula gravou com um estilete em sua própria barriga, comemorou a decisão e disse que o resultado era uma "doce vingança". Paula será obrigada a pagar R$ 4.250 e, se cometer novamente o crime de induzir a Justiça ao erro, mais R$ 18.350.

Em fevereiro, a brasileira disse à polícia que havia sofrido um ataque por três neonazistas. Supostamente grávida de gêmeos - alegação que se provou falsa -, as agressões teriam provocado um aborto. O caso mobilizou a opinião publica brasileira e o governo Lula ameaçou levar a questão à ONU.

"O que o Brasil fez foi um erro. O governo suíço deveria agora mandar uma carta ao presidente brasileiro explicando toda a história, como uma forma de alertar que sejam mais cuidadosos da próxima vez e não comecem a gritar antes de ver as provas", disse Oskar Freysinger, um dos líderes do SVP, principal legenda de extrema direita da Suíça. "Espero que ela nunca mais volte à Suíça." Anualmente, cerca de 220 casos de ataques xenófobos são registrados no país.

Falando em voz baixa, a brasileira negou ter confessado a farsa à polícia, insistindo uma vez mais na versão de que foi agredida. "Eu fui agredida e é essa a versão da realidade que tenho registrada na minha cabeça", disse, vestida de preto e acompanhada por seu pai. "Ninguém nunca me explicou o que ocorreu naquele dia. Não me lembro de nada", afirmou a brasileira, que ontem tentava se mostrar confusa.

A defesa alegou que, no momento do suposto ataque, Paula estaria em estado de delírio. Para seu advogado, Roger Muller, ela já foi suficientemente punida. "Sua reputação está destruída, seu namorado a deixou e ela não pode mais continuar sua carreira em uma empresa internacional", disse. Para a juíza, porém, Paula é responsável por seus atos. "Sua capacidade de compreensão estava intacta", afirmou Nora.