Título: Alta do etanol não chega ao produtor
Autor: Tomazela, José Maria
Fonte: O Estado de São Paulo, 21/12/2009, Economia, p. B6

Plantadores de cana reclamam que, mesmo com demanda aquecida e alta de preços, renda não subiu

Plantadores de cana-de-açúcar do Estado de São Paulo reclamam que os benefícios trazidos pela demanda aquecida e a boa cotação do açúcar e do etanol ainda não chegaram ao campo. De acordo com o gerente-geral da Associação dos Fornecedores de Cana de Guariba (Socicana), Maurício dos Santos Simões, a renda do produtor não aumentou, apesar do momento de euforia no setor. "Houve uma redução no custo de produção por causa da queda no preço do adubo, mas a receita está igual à de 2008." A Socicana reúne 1.500 produtores da região próxima de Ribeirão Preto, que detêm a maior concentração de usinas do País.

De acordo com Simões, as chuvas intensas acabaram prejudicando a produção. Nas regiões tradicionais, como Araçatuba, Araraquara, Piracicaba e Ribeirão Preto, a média deste ano superou os 300 milímetros quando a média histórica gira em torno de 120.

O excesso de água no solo e os dias sem sol interferiram na produção da sacarose. Como o produtor recebe pelo índice de ATR (Açúcar Total Recuperável) por tonelada, a remuneração caiu. "O agricultor precisou fornecer mais toneladas de cana para receber o mesmo valor de um período normal."

Os quase 10 dias por mês em que as usinas não puderam colher, de agosto para cá, também pesaram, pois muita cana ficou para a próxima safra, segundo ele. "O agricultor contava com esse dinheiro, mas é uma receita que não entrou." A colheita da cana bisada - deixada de uma safra para a outra - não tem o mesmo rendimento, diz Simões.

Ele se preocupa com o excesso de otimismo em torno da cotação do açúcar. "O mercado internacional é balizado pelo que Índia e Rússia fazem. Hoje o preço é bom porque faltou açúcar na Índia." Para ele, com o real valorizado, o câmbio não favorece as exportações brasileiras. "Mais da metade (60%) do nosso açúcar é exportado."

O produtor Guilherme Martins, que fornece cana para uma usina da região de Porto Feliz, disse que as chuvas, num primeiro momento, ajudaram o desenvolvimento das lavouras. "De julho em diante ficou muito ruim." Martins não teve condições de fazer todos os tratos culturais, como adubação e capina, e teme que o rendimento da lavoura na próxima safra seja afetado. Mesmo assim, a renda da propriedade, que também produz grãos, foi garantida pela cana.

Apesar do ciclo longo de cinco anos, a cana-de-açúcar entra no sistema de rotação das lavouras. No Estado de São Paulo, a próxima safra terá 5,46 milhões de hectares plantados, aumento de 1% em relação à anterior, segundo o Instituto de Economia Agrícola (IEA).