Título: Nas ruas de Albina, rastro de destruição está por toda a parte
Autor: Recondo, Felipe ; Madueño, Denise
Fonte: O Estado de São Paulo, 30/12/2009, Nacional, p. A5

Ligada por estrada de terra a capital Paramaribo, Albina, entranhada 150 quilômetros adentro na floresta surinamesa, congelou nas ruas os sinais da violência que atingiu brasileiros na véspera de Natal. Ontem, a equipe do Estado entrou na cidade. A violência do ataque aos garimpeiros e suas acompanhantes pelos maroons - quilombolas que vivem na região, conhecidos pelos brasileiros como marrons - pôde ser medida pela destruição no principal centro de comércio da cidade. O mercado, um posto de combustível, seis carros e um caminhão foram destruídos pelo fogo ateado pelos quilombolas.

Em um dos alojamentos de brasileiros, que também foi queimado, os sinais do conflito estão espalhados pelo chão. Documentos, roupas, comidas e objetos pessoais, tudo foi deixado para trás quando os ataques começaram. Todos fugiram sem nada levar. A poucos metros dali, uma loja de compra e venda de ouro, que pertencia a brasileiros, tem nas janelas e nas portas os sinais do saque durante o conflito. Todo o ouro guardado foi levado pelos quilombolas.

Funcionários do governo trabalham, sob a supervisão de bombeiros, na remoção dos entulhos. Até ontem, havia riscos de explosão, já que botijões de gás armazenados no mercado foram atingidos pelo fogo.

Em outra parte da cidade, onde teria começado o conflito após a briga de um brasileiro com um quilombola, as lojas também foram alvos de ataque, mas permanecem abertas. O policiamento na região foi reforçado após o conflito. Moradores da região, inclusive os quilombolas, afirmam que o conflito poderia ter sido evitado se houvesse mais policiais na cidade.

O chefe da polícia local, Bhola Runny, garante que a situação na cidade está normalizada. Mas admite não haver segurança para os brasileiros na cidade, pois muitos dos envolvidos no ataque permanecem foragidos. "Tudo está normalizado. Mas por enquanto não é aconselhável (a presença de brasileiros). Há muitos elementos livres", ponderou.

Somente 35 suspeitos estão presos de um número ainda impreciso de envolvidos. O governo do Suriname estima que entre 100 e 500 quilombolas participaram do ataque. A embaixada brasileira trabalha com a média de 300 envolvidos.

Por recomendação da embaixada brasileira, os jornalistas brasileiros que estiveram na região foram escoltados pela polícia do Suriname. F.R.