Título: Embaixador confirma estupros
Autor: Recondo, Felipe ; Madueño, Denise
Fonte: O Estado de São Paulo, 30/12/2009, Nacional, p. A5

"Foi em número preocupante", diz Machado, que não sabe quantas brasileiras foram vítimas do ataque no Suriname

O embaixador do Brasil no Suriname, José Luiz Machado e Costa, confirmou que mulheres foram estupradas durante o ataque a garimpeiros brasileiros, ocorrido na véspera de Natal, na cidade de Albina - a 150 quilômetros de Paramaribo, capital do país. "Houve comprovadamente estupros e foi em número preocupante", afirmou o embaixador ao Estado.

Ontem, funcionários da embaixada não conseguiram concluir o levantamento. Hoje chega a Paramaribo uma assistente social da Secretaria Especial de Política para as Mulheres que vai auxiliar no trabalho de contagem das vítimas e no tratamento para essas mulheres.

O ataque contra os brasileiros teria sido uma represália à morte de um morador de Albina - integrante do grupo étnico maroon, chamado de "marrons"pelos brasileiros - após briga com um garimpeiro.

Nos hotéis da capital do Suriname onde estão brasileiros que fugiram de Albina, mulheres como Rita de Cássia, que tem hematomas na parte interna das coxas, relatam tentativas de estupro na noite do dia 24. Lúcia Márcia Oliveira contou que "um dos marrons" começou a tirar suas roupas, mas o segurança do mercado em que ela trabalha conseguiu livrá-la. "Ele me perguntou por dinheiro. Depois, tentou tirar minha roupa para me estuprar."

As duas afirmaram que não pensam em retornar ao Brasil. "Não posso voltar porque já moro aqui", disse Lúcia. "Não quero me desfazer das minhas coisas."

Segundo o Itamaraty, cinco brasileiros hospitalizados em estado grave serão levados para Belém (PA) no avião da FAB que segue hoje para Paramaribo. Outros 17 brasileiros, que não estão feridos, também manifestaram o desejo de voltar ao Brasil. O ministro interino de Relações Exteriores, Antônio Patriota, informou ontem que de 10 a 20 mulheres foram vítimas de estupro.

ACORDOS

O governo se queixa que autoridades do Suriname não colocaram em prática o acordo de regularização de imigrantes assinado em 2004. Pelo texto ratificado no Congresso há três anos, brasileiros e surinameses que vivem ilegalmente no país vizinho podem pedir registro de imigrante e autorização de estadia. Para o secretário executivo do Ministério da Justiça, Luiz Paulo Barreto, a regularização dos garimpeiros evitaria conflitos como o de Albina.

"Brasil e Suriname promoveram nos últimos anos aproximação jurídica, que começou com a regularização dessas pessoas. Mas esse acordo não está aplicado plenamente", disse Barreto. "O governo brasileiro quer que o Suriname regularize a situação dos imigrantes."