Título: Iêmen torna-se segundo santuário da Al-Qaeda
Autor: Chacra, Gustavo
Fonte: O Estado de São Paulo, 30/12/2009, Internacional, p. A8

O Iêmen converteu-se na segunda base mundial da Al-Qaeda, além da área de fronteira entre Afeganistão e Paquistão. O atentado frustrado do Dia de Natal, reivindicado na segunda feira pela Al-Qaeda na Península Arábica, deixa evidente a capacidade da rede extremista de lançar operações no exterior apesar dos recentes ataques contra suas bases.

Indiferentes à pressão dos EUA e da Arábia Saudita, as autoridades iemenitas deixaram durante anos a Al-Qaeda da Península Arábica, liderada por radicais iemenitas e sauditas, agir em relativa liberdade, constatam os analistas.

As forças do país, que enfrenta duas rebeliões - uma no norte e outra no sul - e tribos armadas, lidam também com problemas para controlar seu imenso território. A tentativa do nigeriano Umar Farouk Abdulmutalab de explodir um avião americano é apenas o mais recente episódio da série de ataques deste ano atribuída ao ramo local da Al-Qaeda.

Estima-se que Abdulmutalab treinou com a Al-Qaeda no Iêmen. A tentativa ocorreu quatro meses após um ataque suicida contra o responsável pelo combate ao terrorismo na Arábia Saudita, o príncipe Mohamed ben Nayeg, que ficou levemente ferido.

"Esses incidentes mostram que o grupo é capaz de planejar e realizar ações no estrangeiro", afirma Riad Kahwaji, diretor do Instituto de Análise Militar para o Oriente Médio e o Golfo de Dubai. "Também indica que a Al-Qaeda, há anos envolvida num processo de descentralização, se instalou no Iêmen."

A Al-Qaeda mostrou sua cara pela primeira vez no Iêmen no ataque suicida de outubro de 2000 contra o navio militar USS Cole no Porto de Áden, que resultou em 17 mortes. Após numerosas operações no país, o grupo manteve relativa discrição entre 2003 e 2007.

Parece ter havido uma trégua não declarada entre o grupo e as autoridades. Ele não atacaria alvos nacionais e não sofreria perseguições das autoridades. Mesmo assim, a Al-Qaeda reivindicou uma série de atentados contra turistas ocidentais entre 2007 e 2008. Em 2009, acredita-se que a organização se fortaleceu com a fusão dos seus ramos iemenita e saudita - que consideram Riad, aliado dos EUA, seu principal inimigo ideológico.