Título: Obama critica segurança em voos
Autor: Chacra, Gustavo
Fonte: O Estado de São Paulo, 30/12/2009, Internacional, p. A8

Presidente diz que erros 'sistêmicos' puseram em risco a vida de quase 300 passageiros que iam para Detroit

As falhas de segurança que quase permitiram ao extremista nigeriano Umar Farouk Adbulmutallab detonar um explosivo no voo Amsterdã-Detroit foram "sistêmicas" e são "totalmente inaceitáveis", disse ontem o presidente Barack Obama. "Quando nosso governo tem informações sobre um extremista conhecido e essa informação não é compartilhada e trabalhada, de forma que essa pessoa embarca em um avião com explosivos que poderiam custar 300 vidas, uma falha sistêmica ocorreu", afirmou Obama no Havaí, onde passa as festas com sua família.

Ainda segundo o presidente, a sucessão de equívocos levou a um "lapso catastrófico na segurança". O explosivo utilizado pelo nigeriano no frustrado atentado terrorista em Detroit era mais potente do que avaliaram inicialmente autoridades. Caso fosse detonada com sucesso, a bomba poderia ter provocado um buraco na fuselagem do avião, segundo reportagem publicada pelo Washington Post.

O governo americano reconheceu que o material empregado por Abdulmutallab não poderia ser identificado pelos tradicionais métodos de segurança de aeroportos, como os detectores de metais. Mas especialistas advertem que até mesmo as determinações mais simples tomadas depois dos ataques de 11 de Setembro, como checar o nome em listas de suspeitos de terrorismo, não foram aplicadas e poderiam ter impedido o embarque de Abdulmullab.

Sob temores de novas tentativas de atentados, o governo americano colocou o país em alerta laranja - o que significa "risco alto", na escala adotada após o 11 de Setembro.

No Iêmen, o ministro das Relações Exteriores, Abu Bakr al-Qirbi, pediu ajuda ao Ocidente para combater a rede terrorista Al-Qaeda. Segundo ele, "talvez o grupo tenha realmente planejado o atentado de Detroit. E podem haver outros 200, 300 planos como este".

O nigeriano, que está detido nos EUA, diz ter recebido ajuda no Iêmen para realizar a ação. Apesar de o governo americano ainda manter a cautela para afirmar se Abdulmutallab agiu sozinho, anteontem a Al-Qaeda na Península Arábica, com no território iemenita, reivindicou a operação.

No fim de outubro, Nasir al-Wahashy, comandante da Al-Qaeda na região e considerado um homem mais poderoso do que Osama bin Laden atualmente, escreveu na revista Sada al-Malahim, distribuída em sites jihadistas, um artigo aconselhando os militantes da organização a realizar ataques mais simples, incluindo bombas improvisadas.

Já existe tecnologia para identificar explosivos como o PETN, mas dois obstáculos impedem sua implementação em larga escala: chega a custar dez vezes mais do que um detector de metal comum e invade a privacidade.

O mais grave, para as autoridades americanas, foi o fracasso em impedir que o nigeriano embarcasse no avião, apesar de o seu nome integrar uma lista de suspeitos de terrorismo e seu pai, um proeminente banqueiro da Nigéria, ter advertido autoridades britânicas e americanas de que seu filho oferecia riscos. O terrorista, que estudou em uma prestigiosa universidade de Londres, fracassou ao tentar iniciar a explosão e acabou dominado por outros passageiros.

Com o nome na lista de suspeitos de terrorismo, sem despachar bagagem e pagando a passagem em dinheiro vivo, o nigeriano não foi questionado pela segurança do aeroporto. Enquanto isso, nos EUA, as pessoas continuam enfrentando enormes filas e agora devem se adaptar às novas regras, como a proibição de ir ao banheiro na última hora de voo.

SUSTO NA ITÁLIA

A ação de Abdulmutallab criou mais uma onda de paranoia nos aeroportos dos EUA e Europa. Ontem, policiais italianos detonaram uma caixa no aeroporto de Malpensa, em Milão, após o objeto levantar suspeita. O pacote, porém, estava vazio. Apesar do transtorno, a ameaça não mudou a rotina do aeroporto milanês.