Título: Teerã detém irmã de Nobel da Paz
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Fonte: O Estado de São Paulo, 30/12/2009, Internacional, p. A10
Parente de Shirin Ebadi está entre 20 líderes presos após protestos
Pressionado pelos protestos de rua, o regime iraniano voltou ontem a prender líderes da oposição reformista, entre eles a irmã da ganhadora do Prêmio Nobel da Paz de 2003, Shirin Ebadi. Sites opositores afirmam que, além de Noushin Ebadi, pelo menos 20 políticos que atuam contra o governo do Irã foram detidos desde domingo, incluindo assessores e o cunhado do candidato derrotado à presidência Mir Hossein Mousavi, e pessoas próximas ao ex-presidente Muhammad Khatami.
A imprensa controlada pelo governo noticiou ontem manifestações de repúdio aos opositores com "dezenas de milhares" de pessoas em várias cidades iranianas. O aiatolá Abas Vaez Tabasi, um dos principais representantes do líder supremo, Ali Khamenei, qualificou os opositores de "inimigos de Deus" e defendeu a execução dos líderes do movimento.
Segundo as agência estatais, não houve novos atos contra o governo ontem. Sites da oposição, porém, afirmaram que reformistas e forças de segurança voltaram a se enfrentar na Universidade Azad, em Teerã.
Após o falecimento do grão-aiatolá Ali Montazeri, crítico do presidente Mahmoud Ahmadinejad, ter reiniciado protestos na semana passada, a violência nas ruas entre manifestantes e forças de segurança se intensificou no domingo - dia da Ashura, um dos principais feriados xiita. Estima-se que pelo menos dez pessoas morreram e centenas foram feridas e presas nos últimos três dias.
Em meio à tensão, o governo iraniano decidiu ontem retirar a proteção policial que fornece a líderes da oposição. O filho de Mehdi Karoubi, candidato derrotado à presidência, afirmou que a medida equivale a uma prisão domiciliar, já que ela, na prática, impede os principais políticos reformistas de deixar suas casas. O carro que levava Karoubi foi atacado supostamente por partidários do regime no sábado, mas o líder saiu ileso.
"SIONISTAS E AMERICANOS"
O governo iraniano voltou a acusar os EUA e a Grã-Bretanha pela instabilidade e prometeu dar "uma bofetada" na cara do governo britânico. O embaixador de Londres em Teerã foi convocado para dar explicações ao regime dos aiatolás.
Ontem o presidente Nicolas Sarkozy condenou "a repressão sangrenta às manifestações" e advertiu contra "novas detenções, que agravariam ainda mais a situação" no Irã.
Segundo a agência estatal de notícias Irna, Ahmadinejad culpou "sionistas e americanos" pela violência em seu país. "A nação iraniana já testemunhou esse tipo de armação várias vezes", teria afirmado o presidente.