Título: Suriname prende 35 por ataque
Autor: Recondo, Felipe ; Lopes, Eugênia
Fonte: O Estado de São Paulo, 29/12/2009, Nacional, p. A4

Acusações são de incêndio criminoso, roubo e estupro; ao menos quatro brasileiros estariam gravemente feridos A polícia do Suriname prendeu 35 pessoas envolvidas no ataque a brasileiros, ocorrido na véspera de Natal, na cidade de Albina, a 150 quilômetros da capital Paramaribo. Pelo menos 16 pessoas teriam ficado gravemente feridas, entre elas 4 brasileiros. Segundo informação do serviço surinamês da Rádio Nederlands, da Holanda, os presos são acusados de incêndio criminoso, roubo e estupro de mulheres brasileiras. A ministra das Relações Exteriores do Suriname, Lygia Kraag-Keteldijk, garantiu ontem ao secretário-geral do Itamaraty, Antonio Patriota, que a situação está "plenamente sob controle". Não houve brasileiros mortos no conflito, de acordo com o Itamaraty.

Na quinta-feira, em represália pela morte de um morador de Albina supostamente por um brasileiro, cerca de 300 surinameses atacaram a pauladas e pedradas mais de cem brasileiros. Na conversa com Patriota, a chanceler disse que o governo do Suriname foi surpreendido pelo ataque porque os brasileiros são bem aceitos no país.

Um grupo de diplomatas da embaixada no Suriname percorreu ontem hotéis e hospitais em Paramaribo. Entre os quatro brasileiros hospitalizados está um garimpeiro, cujo nome não foi revelado, que foi ferido com golpe de facão e o corte desencadeou gangrena no braço. A embaixada brasileira estuda transferi-lo para Belém, onde a estrutura hospitalar é mais adequada.

Cinco brasileiros vítimas do ataque no Suriname voltaram no domingo ao Brasil em avião da Força Aérea Brasileira (FAB). Segundo Ana Gracindo, oficial de chancelaria da embaixada brasileira, está sendo feito um levantamento para saber quem quer voltar ao País.

Em entrevista à Radio Nederlands, o chefe do setor de Justiça da polícia surinamesa, Krishna Mathoera, afirmou que alguns dos 35 presos ontem já teriam sido reconhecidos pelas vítimas de estupros. "Este é um crime que precisa ser punido e já iniciamos uma investigação", declarou Mathoera.

Segundo a rádio, a polícia e as Forças Armadas surinamesas retiraram 130 pessoas que se esconderam na selva durante os confrontos. Entre elas estão 80 brasileiros e 20 chineses, levados a Paramaribo. Mathoera reconheceu que Albina vive clima de "tensão". "É uma área de fronteira, com grande mobilidade de pessoas e mercadorias. Mas a polícia nunca tinha imaginado que o conflito iria escalar tanto", disse o chefe da polícia.

Pela manhã, o Itamaraty informou ao presidente Lula que não havia registro de brasileiros mortos no Suriname. Em conversa no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB), Patriota disse ao presidente que há "grande diálogo" de diplomatas com o governo do Suriname, para esclarecer o que ocorreu na véspera de Natal, quando moradores de Albina atacaram brasileiros que atuam nos garimpos. Cautelosos, assessores do Planalto e do Itamaraty disseram que é preciso esperar para saber a real dimensão do conflito e o possível número de mortos e feridos.