Título: Recessão foi a pior em 28 anos
Autor: Saraiva, Alessandra
Fonte: O Estado de São Paulo, 29/12/2009, Economia, p. B3

Mas crise no País durou só 2 trimestres

A recessão que abateu a economia brasileira em meio à crise global foi rápida, durou apenas dois trimestres, mas alcançou dimensão sem precedentes em 28 anos. De acordo com análise do Comitê de Datação de Ciclos Econômicos (Codace), da Fundação Getúlio Vargas (FGV), o encolhimento foi de 1,9% por trimestre. É mais que o dobro da redução média trimestral na mais longa recessão brasileira, que durou 11 trimestres (do terceiro trimestre de 1989 ao primeiro trimestre de 1992), que teve recuo médio de 0,7% por trimestre.

"Essa recessão foi, sem dúvida, mais curta. Mas, com certeza, foi mais forte do que a do período Collor (de 1990 a 1992)", disse o economista e integrante do Codace, Regis Bonelli. O período recessivo, que começou no último trimestre de 2008 e terminou no primeiro trimestre deste ano, acabou e Bonelli não descarta a possibilidade de que o Brasil já tenha iniciado um novo ciclo de expansão econômica.

No levantamento, o comitê fez uma cronologia trimestral dos ciclos de negócios brasileiros do primeiro trimestre de 1981 ao primeiro trimestre de 2009. Neste período, foram identificados oito ciclos recessivos e sete de expansão. Nas sete recessões anteriores à mais recente, a redução trimestral média do PIB (Produto Interno Bruto) foi de 0,8%.

A FGV também identificou o período de crescimento econômico mais longo, que durou 21 trimestres, do terceiro trimestre de 2003 ao terceiro de 2008. O bom momento da economia brasileira foi interrompido pela chegada do período mais agudo da crise global, iniciado em setembro do ano passado. "Foi um período de muita incerteza, de muito medo. A gota d"água foi a falência do Lehman Brothers", disse Bonelli.

Para o especialista, a grande magnitude da recessão brasileira foi causada basicamente pelo alcance global da crise, semelhante ao período da Grande Depressão, na década de 1930. "Mas a recessão, na prática, foi eminentemente industrial. A indústria foi o setor mais afetado."

Boneli lembrou que o PIB industrial caiu 12,2% nos dois trimestres de recessão, o que equivale a uma queda média de 6,3% por trimestre, no período. "Foi uma queda bem mais intensa do que a do setor de serviços, por exemplo, cujo PIB caiu 0,6% em média, nos dois trimestres de recessão", comentou. "Os investimentos foram muito afetados no Brasil, durante a recessão."

Agora, a grande questão é quando a economia do País voltará a apresentar "picos" de expansão. O último ponto de auge no crescimento, segundo o Codace, foi no terceiro trimestre de 2008. "Essa é a pergunta de 1 milhão de dólares", disse Bonelli, comentando que a economia brasileira apresentou, no segundo e terceiro trimestres deste ano, crescimento médio de 1,2% por trimestre, taxa que, anualizada, seria de 5% ao ano.