Título: Al-Qaeda faz EUA e Grã-Bretanha fecharem embaixadas no Iêmen
Autor: Chacra, Gustavo
Fonte: O Estado de São Paulo, 04/01/2010, Internacional, p. A9

Após atentado fracassado em avião que sobrevoava Detroit, grupo estaria planejando ataques na capital iemenita

Os EUA e a Grã-Bretanha anunciaram ontem que fecharão as suas embaixadas em Sanaa, capital do Iêmen, por causa das ameaças da rede terrorista Al-Qaeda na Península Arábica. O grupo, segundo disse no sábado o presidente Barack Obama, está por trás da fracassada tentativa de explodir um avião que aterrissava em Detroit no dia do Natal.

John Brennan, chefe de contraterrorismo do governo Obama, disse que os EUA têm indicações de que a Al-Qaeda está organizando operações terroristas contra alvos ocidentais na capital iemenita.

"O grupo planeja realizar um ataque em Sanaa, possivelmente contra a nossa embaixada'', afirmou. De acordo com ele, o governo americano está muito preocupado com crescimento da Al-Qaeda no Iêmen e não "pode correr riscos".

Em comunicado publicado em seu site, a Embaixada dos EUA em Sanaa informou ontem que ficaria fechada "em resposta às ameaças da Al-Qaeda na Península Arábica de atacar interesses americanos no Iêmen". No dia 31, a missão dos EUA na capital iemenita já havia advertido os cidadãos americanos no país a tomarem precauções diante da ameaça de ações terroristas.

A Grã-Bretanha também alegou questões de segurança para o fechamento de sua embaixada no Iêmen. Horas antes do anúncio da decisão, o premiê Gordon Brown disse à BBC que existe "um novo tipo de ameaça e sua origem é, obviamente, no Iêmen", mas que também haveria focos potenciais como a Somália, o Afeganistão e o Paquistão.

ATENTADOS

Além de britânicos e americanos, os espanhóis também determinaram restrições no funcionamento de sua embaixada, embora tenham mantido a missão aberta. O Brasil não possui representação diplomática no Iêmen. As questões ligadas ao país estão sob jurisdição da missão brasileira em Riad, na Arábia Saudita.

Em 2008, a Embaixada dos EUA em Sanaa foi alvo de um atentado que matou 19 pessoas, sendo um cidadão americano. O destroier USS Cole também sofreu um ataque terrorista em 2000 - 17 marinheiros americanos morreram.

Depois do 11 de Setembro, o presidente do Iêmen, Ali Abdullah Saleh, se aliou aos EUA na guerra ao terror e conseguiu reduzir a força da Al-Qaeda no país nos anos seguintes.

Nos últimos dois anos, contudo, a organização terrorista voltou a se fortalecer em território iemenita. A principal razão, segundo especialistas, foi o retorno de jihadistas veteranos da guerra do Iraque. Além disso, antigos prisioneiros de Guantánamo transferidos para o Iêmen conseguiram fugir das precárias prisões iemenitas e se juntar à Al-Qaeda.

Com o crescimento da rede terrorista, os EUA dirigiram as suas atenções para o país árabe, especialmente depois do incidente em Detroit. David Petraeus, comandante militar americano que se tornou conhecido pelo seu sucesso na redução da violência no Iraque, visitou o Iêmen no sábado, onde entregou uma mensagem do presidente Obama para o líder iemenita.

Os dois países trabalham conjuntamente no combate ao terrorismo e os EUA devem dobrar a ajuda militar ao Iêmen. Autoridades americanas não descartam realizar operações aéreas contra focos da rede terrorista, que recentemente foram alvo da aviação iemenita. Obama, falando a uma rádio, disse que campos de treinamento da Al-Qaeda no Iêmen "foram atacados e alguns líderes, eliminados". O governo do Iêmen diz que apenas permitirá ajuda dos EUA, mas sem o uso de mísseis ou de aviões americanos.

RISCOS

O governo dos EUA enfrenta dificuldades para convencer o presidente Saleh de que a Al-Qaeda oferece mais riscos do que os dois outros conflitos que o país está envolvido.

No norte, as tropas iemenitas, com a ajuda da Arábia Saudita, combatem rebeldes houthis, que seguem um corrente do islamismo próxima a dos xiitas - o Iêmen é majoritariamente sunita.

Os houthis são acusados de receber apoio do Irã. Tanto os rebeldes quanto Teerã negam, apesar de o regime iraniano simpatizar com o grupo. No sul, o Exército luta contra tribos separatistas.