Título: O Brasil é nosso motor de crescimento
Autor: Chiara, Márcia De
Fonte: O Estado de São Paulo, 04/01/2010, Economia, p. B3

Andrea Jung: Presidente executiva da Avon mundial[br]Pela primeira vez na história da Avon no Brasil, o País tornou-se o maior mercado consumidor dos produtos da marca

Pela primeira vez na história da Avon mundial, o Brasil se tornou, no terceiro trimestre de 2009, o maior mercado da companhia, desbancando a liderança histórica dos Estados Unidos. Entre julho e setembro do ano passado, o faturamento da empresa no Brasil cresceu 22% em relação ao mesmo período de 2008 e registrou alta, pelo terceiro trimestre seguido, em moeda local. Enquanto isso, as vendas na América do Norte caíram 8% e cresceram apenas 7% na companhia como um todo.

"O desempenho positivo de 2008, combinado com a liderança local, permitiu progressos no Brasil em 2009, mesmo com ventos de proa", disse Andrea Jung, presidente mundial da Avon. Essa canadense de 50 anos de idade, filha de chineses, esteve no Brasil no início de dezembro. Ela veio conferir o desempenho da filial brasileira e inaugurar o Centro de Prevenção do Câncer de Mama Instituto Avon no Hospital do Câncer de Barretos (SP), no qual a companhia investiu R$ 6 milhões.

No intervalo entre reuniões em São Paulo e a solenidade de inauguração em Barretos, Andrea falou ao Estado sobre os efeitos da crise nos diferentes mercados, a reestruturação pela qual passa a empresa, os planos da companhia para o Brasil e a crença na sustentabilidade no crescimento de países emergentes.

A quinta mais poderosa mulher de negócios do mundo, segundo o ranking da revista Fortune, seguiu de Barretos para Miami (EUA), levando no jatinho Gulfstream as duas pratas da casa: Luis Felipe Miranda e Charles Herington, presidentes da Avon Brasil e da América Latina, respectivamente, os mercados onde a empresa mais cresceu no pós-crise. A seguir, trechos da entrevista.

Como foi, em 2009, o desempenho da subsidiária brasileira da Avon dentro da companhia?

Pela primeira vez, o Brasil é o maior mercado em vendas da Avon no mundo. O País superou no terceiro trimestre os Estados Unidos, que eram o principal mercado em faturamento. A receita no Brasil cresceu 22% no terceiro trimestre de 2009 em moeda local e mais de 18% no ano até setembro em relação a 2008. Estamos bem satisfeitos com o desempenho da Avon Brasil, especialmente num ano em que houve muitos desafios na economia global por causa da crise. Dentro desse cenário, o Brasil conseguiu não apenas sustentar o crescimento, mas teve um resultado acima das expectativas, especialmente no recrutamento de um número cada vez maior de mulheres para serem revendedoras. O crescimento no número de revendedoras no Brasil é contínuo há muitos anos. O País tem 1,1 milhão de revendedoras, a maior força de vendas da Avon no mundo.

A sra. ficou surpresa com o fato de a filial brasileira ser a primeira em faturamento da companhia, à frente dos Estados Unidos?

Não fiquei exatamente surpresa, mas muito satisfeita. A razão pela qual não fiquei surpresa é que, já em 2008, o Brasil teve um ano muito forte, com uma receita de US$ 1,8 bilhão. A receita e a lucratividade em 2008 foram muito fortes. Esse impulso de 2008 acabou alavancando os resultados de 2009. O desempenho positivo, combinado com a liderança local, permitiu progressos mesmo com ventos de proa.

Como foi o desempenho da companhia nas economias desenvolvidas?

Foi mais difícil atingir os resultados nas economias desenvolvidas porque elas sofreram mais com a crise. Pela primeira vez houve um desatrelamento entre as economias emergentes e as mais desenvolvidas. Esses grupos estão crescendo a taxas diferentes. Vejo com otimismo a recuperação que se desenha para 2010. Mas estou mais otimista com as economias emergentes. Os países emergentes estão conseguindo um ritmo de recuperação um pouco maior que as economias desenvolvidas. Nos países desenvolvidos, o processo de retomada será um pouco mais lento.

Qual foi o mercado da Avon mais afetado pela crise?

A Europa Ocidental, mas principalmente o mercado dos Estados Unidos, que sofreu um golpe mais severo. Na América do Norte, onde os Estados Unidos são o principal mercado, as vendas caíram 8% em moeda local no terceiro trimestre de 2009 em relação ao mesmo período de 2008 e 5% em número de unidades. De janeiro a setembro, a retração foi de 9% no faturamento na comparação com ano anterior. A quantidade de produtos vendidos na América do Norte diminuiu 6% em 2009.

É possível saber quantas pessoas desempregadas por causa da crise tornaram-se revendedoras da Avon nos EUA?

É difícil ter esse tipo de informação. Mas tivemos um aumento de 3% no número de representantes ativos em 2009 na América do Norte em relação a 2008.

A sra. acredita que a recuperação das economias emergentes seja sustentável?

Acredito que haja alguns pontos fortes, algumas forças fundamentais atuando nas economias emergentes que justificariam, sim, a sustentabilidade da recuperação. Imagino que, para esses países, o PIB (Produto Interno Bruto) continue crescendo de forma sustentável, porque existem justamente essas forças fundamentais. No Brasil, por exemplo, o fato de o País ter uma taxa de desemprego relativamente baixa e também os esforços do governo de garantir um maior acesso ao consumo, propiciam uma maior afluência de toda a sociedade ao mercado e não apenas de um segmento. Isso tudo apontaria para uma economia forte, robusta e que tem condições de se sustentar. Acredito que o PIB vá continuar crescendo nos emergentes.

Há risco de que esteja se formando uma bolha especulativa nos países emergentes?

O próprio fato de haver um fluxo de investimentos tão grande vindo para o País já mostra que não se trata de uma bolha. Normalmente, o investimento não é feito onde não há condições de sustentabilidade. O investimento está sendo atraído para os mercados emergentes porque as perspectivas são sustentáveis.

Quais são os planos da Avon para o Brasil?

Há um investimento de US$ 150 milhões que já está sendo feito em Cabreúva (SP) num novo centro de distribuição da Avon. Será o maior centro de distribuição da Avon no mundo e deverá ser inaugurado no segundo semestre de 2010. Investimos globalmente nos últimos 12 meses até o terceiro trimestre de 2009 mais de US$ 400 milhões em publicidade e US$ 250 bilhões para atrair revendedoras. Grande parte dessa cifra foi destinada ao Brasil por causa da prioridade que a companhia dá a esse mercado.

Há planos de ter uma nova fábrica no País?

Estamos ampliando a fábrica de Interlagos permanentemente. Em 2009, a capacidade de produção dessa fábrica foi aumentada em 40%. Temos feito investimentos importantes em equipamentos mais eficientes na maior fábrica da América Latina.

Quais são as perspectivas para a Avon do Brasil em 2010?

Estamos muito otimistas. O Brasil continua sendo o motor de crescimento para a Avon e é um mercado prioritário dentro dos nossos negócios globais. Alguns exemplos da força das operações brasileiras: dois de cada três batons vendidos no Brasil são fabricados pela Avon; um de cada dois cremes antiidade vendidos no Brasil são da Avon; vendemos uma máscara para cílios a cada dois segundos no País. E vamos continuar crescendo. Esse crescimento sobre crescimento deve manter o Brasil na liderança entre os demais mercados da companhia

Como está a reestruturação da companhia no mundo? Já foi atingida a meta de economizar US$ 1 bilhão?

A meta de US$ 1 bilhão será alcançada em 2013, após a implementação de todas as iniciativas de reestruturação iniciadas em 2009. Começamos a reestruturação antes da crise. Não há relação direta com a crise. Queremos transformar a nossa estrutura de custos, melhorar a eficiência operacional e ser um competidor global mais forte. Na América Latina estamos trabalhando para obter vantagens do nosso tamanho e escala na região. Estamos melhorando o nosso modelo operacional com planos de regionalizar o marketing, o comercial e dar apoio a outros negócios chave, como suporte de vendas, cadeia de suprimentos e administração em todos os mercados. Com estrutura menor, as decisões e os recursos liberados para ganhar mais eficiência e lançar produtos novos serão mais rápidos.

Como a sra. vê o papel da China na economia mundial e na Avon?

Logicamente a economia chinesa é robusta, muito vibrante e com crescimento muito dinâmico. É, com certeza, uma das grandes estrelas entre as economias emergentes. Acho que a Avon tem um grande futuro na China pelo grande número de mulheres que há no país. Muitas delas vão se sentir atraídas pela proposta da companhia para obter ganhos como revendedoras de nossos produtos. A China é uma das locomotivas para o mercado de beleza, que é altamente promissor lá pelo grande interesse por esse tipo de produto que as chinesas estão demonstrando. Vejo a China como um grande fator de impulso para a economia mundial