Título: Família de Yumi decide lançar cinzas em Angra
Autor: Carranca, Adriana
Fonte: O Estado de São Paulo, 04/01/2010, Metropole, p. C4/5/6

Filha de donos de pousada atingida por deslizamento foi cremada; corpos de amigos foram enterrados em BH

Em clima de comoção, parentes e amigos se despediram ontem de Yumi Imanishi Faraci, de 18 anos, que morreu no deslizamento que atingiu parte da Pousada Sankay, em Ilha Grande, em Angra dos Reis (RJ), na madrugada do dia 1º. O corpo da jovem foi velado durante o dia e cremado no fim da tarde no Cemitério Parque Renascer, em Contagem, na região metropolitana de Belo Horizonte. Suas cinzas, segundo a família, serão jogadas na baía de Angra.

Yumi era filha dos donos da pousada e passou o réveillon com um grupo de colegas do curso de arquitetura e urbanismo da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Os corpos de Paulo Sarmiento, de 27 anos, e Isabella Godinho, de 20 ? casal de namorados, amigos de Yumi, que também morreu na tragédia ?, foram enterrados pela manhã na capital e em Lagoa Santa, também na Grande BH.

Em Contagem, centenas de pessoas foram ao velório de Yumi, entre elas três colegas da jovem que escaparam da tragédia que atingiu a Enseada do Bananal. Ainda abalado, Cristiano Dayrell, de 19 anos, ressaltou que, pouco antes do deslizamento da encosta de 200 metros, o clima era de um réveillon dos sonhos. A última lembrança que guardou da amiga foi o banho de mar após a virada do ano. "Ficamos vendo os plânctons. Estava tudo perfeito", disse o universitário, que ainda não se recuperou do "pesadelo". "Qualquer cadeira arrastada, qualquer barulhinho, eu morro de medo."

Cristiano e o colega Gustavo Pucci de Oliveira, de 22 anos, foram os primeiros a sair do quarto onde dormia o grupo de convidados de Yumi. "Eu não tinha noção do que estava acontecendo. Acredito que era o único acordado na hora", contou Gustavo, bastante emocionado. "De repente, veio tudo caindo. A princípio, achei que não teria jeito de sair."

Apesar do susto, os dois estudantes e Geraldo Faraci, pai de Yumi, resgataram outros colegas que estavam no quarto, mas não conseguiram localizar a filha do dono da pousada e o casal de namorados. "Era muita lama, pedra, árvore. Não tinha condições de fazer nada, mas nós tentamos", disse Gustavo.

Geraldo e a mulher, Sônia Faraci, chegaram ao cemitério por volta das 8h. Permaneceram a maior parte do tempo ao lado do caixão, em meio a orações dos presentes. Em um desabafo, a mãe relembrou a alegria da filha nos momentos que antecederam ao acidente.

Outros parentes também se emocionaram. "Estamos inconformados. Yumi era uma pessoa de muita luz", disse Raquel Faraci, tia da jovem. Para Cristiano, o mais difícil será voltar às aulas na UFMG sem a companhia da melhor amiga do curso de arquitetura.