Título: No meio dos escombros, lembranças das vítimas
Autor: Carranca, Adriana
Fonte: O Estado de São Paulo, 04/01/2010, Metropole, p. C4/5/6

Com a ajuda de retroescavadeiras, helicópteros e embarcações, 65 bombeiros e 13 policiais continuavam a buscar desaparecidos ontem

Em meio aos escombros na Praia do Bananal, na Ilha Grande, bombeiros continuavam ontem em busca de corpos e também recolhendo pertences das vítimas, dois dias depois do deslizamento de terra que soterrou sete casas e parte de uma pousada. Um álbum de fotografias com capa do urso Pooh tinha fotos guardadas por uma das sobreviventes, Lívia de Brito Pereira, de 28 anos. Ela aparece ao lado de parentes, muitos deles mortos na tragédia. Com uma perfuração no pulmão, Lívia está bem, segundo a prima Elizabeth, e seria transferida de Angra para um hospital do Rio.

Dentro do álbum, um poema de Lívia, Longanimidade (Perseverança), se destacava. "É acreditar sempre. Nunca desanimar. É a força de perseguir. Até alcançar. Das pessoas buscar. O melhor encontrar. E a vida orienta. Para ao alvo chegar." Lívia também guardava no álbum uma carta da avó, que morrera havia dois anos.

Misturados com terra e lama, havia roupas de bebê, livros, uma torradeira, meio fogão e muitas outras lembranças. Para auxiliar nas buscas e tentar localizar vítimas, três mergulhadores ocuparam uma faixa de 150 metros da orla soterrada pelo deslizamento do dia 1º.

Subiu para 29 o número de corpos resgatados na Ilha Grande - o de Gabriela de Brito Pereira, 13 anos, moradora da região, foi encontrado pela manhã sob uma imensa pedra. Segundo o governo do Estado, havia notificações do desaparecimento de mais três pessoas que passaram o réveillon na região - duas turistas de São Paulo e uma moradora da ilha. "Não quer dizer que não tenha mais gente cujo desaparecimento não foi notificado por parentes", disse o secretário de Saúde e Defesa Civil, Sérgio Cortes.

Dos 29 corpos, três estavam no mar, boiando, e dois foram resgatados por embarcação da Polícia Federal. "Com os três mergulhadores, vamos esgotar uma possibilidade que é remota, mas existe. Uma vítima foi projetada na água e sobreviveu. Pode haver alguém preso no fundo", disse o diretor de Operações do Corpo de Bombeiros, coronel Carlos Bonfim.

Marcações feitas pelos sete cães farejadores usados nas buscas ajudaram a localizar sete corpos sob os escombros. O trabalho ontem era feito por 65 bombeiros, com o auxílio de três retroescavadeiras, seis helicópteros e quatro embarcações. Além dos bombeiros, trabalhavam na ilha 13 policiais.

O coronel calculou em 10 mil metros cúbicos a quantidade de terra misturada a pedras e árvores que desceu do morro, atingindo uma faixa de 150 metros de extensão da orla. Formou-se um monte de três metros de altura e 20 de largura, em cima do qual trabalhavam os bombeiros e as máquinas.

A moradora Erivânia Pereira dos Santos, 28 anos, disse que pretende deixar a ilha. O marido dela era funcionário da pousada Sankay, que foi parcialmente destruída, mas não trabalhou no réveillon.