Título: Em SP e no Rio, 2 mil vão a enterros
Autor: Carranca, Adriana
Fonte: O Estado de São Paulo, 04/01/2010, Metropole, p. C4/5/6

Única sobrevivente de uma tragédia que matou seis pessoas de sua família não pôde acompanhar sepultamento

Cerca de 2 mil pessoas compareceram ontem os enterros de vítimas das chuvas, desabamentos e deslizamentos ocorridos no Rio e em São Paulo. As vítimas foram sepultadas em Belo Horizonte, São Paulo, Arujá (SP) e Guararema (SP). Única sobrevivente de uma tragédia em Cunha (SP) que matou marido e dois filhos, Alice Moron Silva, de 41 anos, não pôde comparecer ao enterro da família, no Cemitério de Congonhas, zona sul de São Paulo. Ela estava internada, com fratura no quadril, na UTI do Hospital 9 de Julho.

"Mário, Dudu e Sassá, eu amarei vocês para sempre. Alice", lia-se em uma das coroas de flores sobre o jazigo onde Mário Penha, de 46 anos, e os filhos, Eduardo, de 15, e Sabrina, de 12, foram enterrados. Alice sobreviveu ao soterramento de Cunha, a 230 km da capital, que matou também seus pais, Manolo e Érica, de 65 anos, e sua única irmã, Ingrid, de 35.

Os seis integrantes da família foram enterrados no início da tarde de ontem em dois jazigos - Mario e os filhos em um, Manolo, Érica e Ingrid em outro - do Cemitério de Congonhas. Quase 300 amigos e parentes acompanharam o enterro e participaram de uma missa, realizada ao ar livre, na frente das salas onde os corpos eram velados.

Segundo pessoas presentes ao enterro, Alice está consciente, embora venha sendo medicada com calmantes. "Se Deus não me levou é porque eu ainda tenho de completar algo importante por aqui", teria dito Alice a uma amiga, que não quis se identificar. Ela é integrante do motoclube Buena Vista, do qual Mario era sócio havia dois anos.

Usando jaquetas do motoclube, cerca de cem integrantes do Buena Vista e de um segundo motoclube, o Solteiros, acompanharam o cortejo entre o velório e os jazigos, buzinando e acelerando 30 motocicletas em homenagem a Mario. O casal se reunia com o grupo todas as quartas-feiras no restaurante Vila Fiori, no Paraíso, e costumava levar os filhos nas viagens.

"O Mario era uma pessoa muito dedicada à mulher e aos filhos. Eles frequentavam o motoclube e viajavam sempre juntos. Mario dizia que o Buena Vista era parte da família dele", disse o presidente do conselho do grupo, Waldomiro da Cruz Moreira. Segundo ele, outro amigo do motoclube foi o primeiro a ser avisado sobre as mortes pelas equipes de resgate.

Os motociclistas, então, se dividiram para ajudar no que fosse preciso, como os documentos para a liberação dos corpos e a organização do velório e do enterro. "Era uma família saudável, feliz e sempre unida. As crianças viviam na piscina do prédio. Agora, só Deus para dar força a essa mãe", disse a vizinha Maria Augusta Ricciardi, de 68 anos.