Título: Modelo a distância é pouco explorado
Autor: Mandelli, Mariana
Fonte: O Estado de São Paulo, 28/12/2009, Vida&, p. A12

Para especialistas, tecnologia disponível pode romper as barreiras físicas

O número de pessoas com deficiência no ensino superior a distância também cresceu. Somente entre 2007 e 2008, o aumento nas graduações foi de 340%. Hoje, 603 portadores de necessidades especiais estão cursando a faculdade nessa modalidade de ensino. Eles representam 0,08% das matrículas em ensino a distância (EAD) no Brasil.

Apesar do crescimento, especialistas afirmam que os números ainda são ínfimos para o potencial desse tipo de educação. Para o presidente da Associação Brasileira de Educação a Distância (Abed), Fredric Litto, o País ainda caminha lentamente. "Mas o aluno deve ter autonomia, afinco e dedicação aos estudos", ressalta.

A escassa divulgação da EAD entre os portadores de necessidades especiais, segundo os especialistas, também é outro entrave para o desenvolvimento da modalidade. Para o secretário de Educação a Distância do Ministério da Educação, Carlos Eduardo Bielschowsky, não falta divulgação, mas sim informações sobre o tema. Ele diz que a possibilidade de cursar EAD não significa que a pessoa com deficiência não possa frequentar um curso presencial.

Para o coordenador do Laboratório de EAD da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Fernando Spanhol, a tecnologia a distância rompe as barreiras físicas. "Os recursos existem e as instituições devem se preparar, desenvolvendo dispositivos específicos para cada deficiência."

O ensino a distância já é visto por alguns educadores como a solução para qualificar pessoas com deficiência para o mercado de trabalho. "As empresas querem cumprir a cota, mas não encontram profissionais para contratar", afirma o ex-ministro da Educação Carlos Alberto Chiarelli, que preside a Associação da Cadeia Produtiva de Educação a Distância (Aced). Dados do Ministério do Trabalho indicam que existem hoje 323,2 mil pessoas com deficiência no mercado de trabalho formal - o que significa 1% do total de empregos.

Para Tiago Ortega, de 20 anos, que enxerga apenas com o olho esquerdo, o ensino a distância pode ser uma oportunidade de cursar a graduação. Ele havia interrompido o ensino médio para trabalhar e, agora, cursa uma espécie de supletivo a distância em Curitiba para finalizar os estudos. Para estudar em casa, Tiago usa o computador e um MP4. "Com isso, eu passei a sonhar a fazer uma faculdade de Administração ou de Teologia", conta.