Título: Vou fazer uma coleção de testes
Autor: Aranda, Fernanda
Fonte: O Estado de São Paulo, 28/12/2009, Metropole, p. C1

Publicitária se acostumou com blitze e quando bebe não dirige; mas exemplo não é seguido por colegas

A sensação de que as mulheres são blindadas do bafômetro nasceu quase que juntamente com a lei seca - em junho do ano passado -, sobretudo com as estratégias iniciais adotadas pela fiscalização paulistana. No início, a Polícia Militar definiu como "alvo" principal da fiscalização os jovens, com idades entre 18 e 25 anos, que frequentavam locais com alta concentração de bares (na capital, foram eleitas as boêmias Vilas Madalena, Mariana e Olímpia). O motivo para a escolha do sexo masculino eram os estudos sobre acidentes de trânsito e uso nocivo de álcool, que sempre apontaram os homens como vítimas principais.

Agora a publicitária Camila Tomasi, de 24 anos, é termômetro sobre a mudança da forma de fiscalizar a lei seca. Entre os compromissos diários, ela sabe que toda sexta-feira é dia de passar por uma blitz. No caminho entre o trabalho e a casa - que passa pela Avenida Sumaré -, sempre esbarra pelo mesmo esquema de fiscalização de motoristas alcoolizados. Seu rosto ainda de menina não convence que o resultado será "zero" no bafômetro. "Já até conheço os policiais. Brinco que vou fazer coleção de teste no bafômetro", diz Camila. Ela só bebe aos fins de semana e tem tática definida para não ser flagrada. Se bebe, não dirige, apesar de admitir que a prática não é recorrente entre as amigas.

Já a colega Michelle de Oliveira, de 28 anos, também publicitária, nunca foi parada em uma dessas fiscalizações. Não acredita que passou imune por causa dos olhos verdes e unhas rosas. "Acho que foi sorte mesmo", afirma ela, ao eleger um argumento sobre o aumento de mulheres flagradas pelos aparelhos que medem a dosagem alcoólica de motoristas. "A mulherada está bebendo mais mesmo. É só olhar em volta", sugeriu.

OBSERVAÇÃO

É fato que uma panorâmica feita pela reportagem na Rua Maria Antônia, no centro, perto da hora do almoço, confirmou a prevalência de meninas e mulheres nas mesas, sempre acompanhadas de copos de cerveja.