Título: Relatório de Inflaçã pouco ambicioso
Autor:
Fonte: O Estado de São Paulo, 23/12/2009, Economia, p. B2

O Relatório de Inflação para o último trimestre foi feito depois da Ata da reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) que encerrou o ano e traz uma análise mais aprofundada que a da Ata do Copom.

O seu principal objetivo, como o nome indica, é examinar as perspectivas da evolução da inflação definida pelo IPCA, índice que, em 2009, ao contrário de anos anteriores, aumentou mais do que os índices sensíveis à evolução dos preços no atacado, contidos pelos preços dos produtos importados.

A análise retrospectiva da inflação, por estar incluída num documento mais técnico, é mais minuciosa do que nas atas das reuniões do Copom. Assim, no sumário executivo, o relatório chega a dizer que o retorno do superávit fiscal e a relação dívida pública líquida/PIB "dependerão fundamentalmente da trajetória das despesas correntes", uma crítica diplomática ao governo.

O capítulo mais interessante é o que trata das perspectivas da inflação. Partindo de um exame dos fatores que neste ano condicionaram a contenção da inflação, o relatório examina os principais riscos para os próximos meses. Assinala, em primeiro lugar, a intensidade com que se dará a recuperação da atividade econômica doméstica, mostrando-se muito cauteloso quanto à retomada nos países industrializados. A preocupação - e poder-se-ia dizer, obsessão - é saber se a oferta, isto é, os investimentos do setor industrial, acompanharão a demanda. Pensamos que essa é uma preocupação exagerada, pois, como mostra a história, a indústria sempre atende à demanda, desde que disponha de crédito adequado.

Outro risco é o que está vinculado ao aumento dos preços das commodities, que dependem da evolução da conjuntura internacional.

Um risco mais sério é a indexação, uma herança do tempo da inflação elevada que, infelizmente, o próprio governo realimenta. Isso poderá afetar os preços dos serviços.

Seguindo a tradição do Copom, o relatório se mostra discreto em relação aos efeitos do déficit público, aceitando as afirmações do governo de que as metas do superávit primário serão alcançadas tanto em 2009 quanto em 2010.

Um fato que merece ser destacado é que as autoridades brasileiras aceitam pacificamente que a taxa de inflação se mantenha em 4,5% ao ano - como uma fatalidade que não nos permitisse ter uma meta um pouco mais ambiciosa diante da recuperação da nossa economia.