Título: Iêmen diz ter matado 2 terroristas
Autor: Chacra, Gustavo
Fonte: O Estado de São Paulo, 05/01/2010, Internacional, p. A8

Sob pressão, regime iemenita age contra Al-Qaeda; Alemanha, França e Japão também fecham embaixadas

As forças de segurança do Iêmen bombardearam membros da Al-Qaeda na Península Arábica (AQAP, na sigla em inglês). Ao menos dois militantes da organização foram mortos na operação lançada a cerca de 40 km ao norte de Sanaa, capital do país.

O ataque ocorre depois da ameaças de atentados terroristas contra alvos ocidentais na cidade. As embaixadas dos EUA e da Grã-Bretanha permaneceram fechadas ontem e as da França, da Alemanha e do Japão decidiram adotar a mesma medida.

Em Washington, a secretária de Estado, Hillary Clinton, afirmou que o Iêmen é uma "ameaça global" e a "Al-Qaeda tem se esforçado para transformar o país em uma base de operações para ataques terroristas".

A chefe da diplomacia americana, que retornou do recesso de fim de ano, pressionou as autoridades de Sanaa a agirem com dureza contra a AQAP. "Chegou o momento de a comunidade internacional deixar claro para o Iêmen que existem expectativas e condições para continuarmos apoiando seu governo - para que eles sejam capazes de trazer estabilidade para a população iemenita e de toda a região", afirmou. Ela acrescentou ainda que os EUA apenas reabrirão a embaixada em Sanaa quando as condições de segurança melhorarem.

Na ação de ontem, o alvo seria Nazih al-Hanq, um dos líderes do braço da Al-Qaeda no Iêmen. A AQAP tornou-se um dos mais poderosos braços da rede terrorista atualmente.

Derrotar a organização que instalou sua base no território iemenita transformou-se na prioridade do governo americano no contexto do que Washington qualifica de "guerra ao terror" - depois do envolvimento da rede terrorista na fracassada tentativa de explodir um avião em Detroit no Dia do Natal. Al-Hanq conseguiu escapar ileso, mas dois de seus seguranças morreram, segundo autoridades iemenitas.

O Iêmen, envolvido em um conflito contra os rebeldes houthis no norte e separatistas no sul, tem sido pressionado pelo americanos a intensificar o combate à Al Qaeda, que vinha sendo relegado a um segundo plano pelo governo de Ali Abdullah Saleh, aliado dos EUA.

A mudança começou antes mesmo do episódio em Detroit. No dia 24, erca de 30 membros da AQAP teriam sido mortos em um bombardeio das tropas iemenitas, de acordo com autoridades do país.

CLÉRIGO

Entre os mortos estaria um clérigo radical americano que tem base no Iêmen e influenciou tanto o nigeriano que tentou explodir o avião como o atirador da base militar de Fort Hood, no Texas. Outro ataque contra a Al-Qaeda ocorreu uma semana antes, no dia 17 de dezembro.

Há especulações de que os EUA podem se envolver diretamente nos ataques em ações secretas, usando mísseis, aviões não-tripulados e mesmo caças.

O governo do Iêmen nega e diz apenas receber ajuda americana. Na semana passada, a contribuição financeira de Washington para as Forças Armadas do país árabe dobrou para US$ 150 milhões. Os serviços de inteligência americanos, trabalhando em coordenação com agentes iemenitas, dizem ter obtido a informação de que quatro terroristas suicidas pretendiam atacar interesses dos EUA e de outros países ocidentais em Sanaa. Três deles foram mortos nos ataques já realizados desde dezembro e dois campos da AQAP destruídos.

O chefe de contra-terrorismo de governo de Barack Obama, John Brennan, que deu entrevistas para as principais redes de TV dos EUA no fim de semana, afirmou que "a Al-Qaeda possui centenas de membros no Iêmen e se fortaleceu" nos últimos tempos.

CAPITAL POBRE

O governo do Iêmen fala em cerca de 300. Sanaa, considerada a capital mais pobre do mundo árabe, estava com mais policiais e soldados nas ruas e o clima era de segurança, de acordo com relatos de pessoas que estão na cidade.

Em uma tentativa de mostrar que a vida segue em clima de tranquilidade, o governo do Iêmen garantiu que uma partida de futebol da seleção iemenita contra a do Japão, nesta semana, ocorreria normalmente