Título: Ibovespa supera os 70 mil pontos
Autor: Fuoco, Taís ; Modé, Leandro
Fonte: O Estado de São Paulo, 05/01/2010, Economia, p. B3
Bolsa brasileira sobe 2,12% no primeiro pregão de 2010 e alcança o nível mais alto desde junho de 2008
No primeiro pregão de 2010, o Índice da Bolsa de Valores de São Paulo (Ibovespa) deu nova demonstração de força. Fechou acima dos 70 mil pontos pela primeira vez desde junho de 2008. O indicador está agora a 5% do recorde de 73.516 pontos, alcançado em 20 de maio de 2008. A alta de ontem, de 2,12%, levou o índice para 70.045 pontos.
No ano passado, o principal termômetro da bolsa brasileira avançou quase 83%, a maior valorização do mundo. O desempenho tão positivo dividiu os analistas em relação às perspectivas para 2010. Parte acredita que o fôlego neste ano será bem mais curto, enquanto outros especialistas ainda veem espaço para altas expressivas.
"Estou otimista com a bolsa para o ano, mas vejo altíssimo risco no curto prazo", disse o estrategista chefe do banco WestLB, Roberto Padovani. O diretor da InvestPort, Dany Rappaport, pensa diferente. "O cenário para a bolsa está positivo nos próximos três meses, mas, a partir do segundo trimestre, ficará mais arriscado porque os países desenvolvidos devem iniciar um movimento de alta das taxas de juros", afirmou.
Especificamente ontem, uma série de fatores sustentou o otimismo dos investidores. Pela manhã, um indicador da produção industrial da China mostrou a nona alta consecutiva. Índice parecido, relativo à Zona do Euro, fechou dezembro no nível mais alto em 21 meses.
Esse dado contribuiu para que as principais bolsas europeias fechassem com expressiva altas. Em Londres, o índice FTSE-100 subiu 1,62%. O DAX, de Frankfurt, avançou 1,53%.
Nos EUA, o índice dos gerentes de compra da atividade industrial subiu para 55,9 em dezembro, superando a previsão. Trata-se da maior leitura desde abril de 2006. Esse foi um dos fatores que impulsionaram o mercado local. O Índice Dow Jones subiu 1,5% e a bolsa eletrônica Nasdaq, 1,73%.
O Ibovespa manteve-se em alta durante toda a sessão. Os papéis de bancos ficaram entre os destaques de ganhos (os do Itaú Unibanco valorizaram 4,39%, os do Bradesco, 3,90%, e os do Banco do Brasil, 0,84%).
Segundo uma operadora especializada no setor, as ações de Itaú Unibanco e Bradesco subiram menos que o Ibovespa no ano passado, diferentemente do Banco do Brasil, cuja ação superou o ganho do índice. Como o ano virou e as perspectivas são boas para a área financeira no Brasil, isso pode explicar o salto nas cotações das duas instituições ontem.
Entre as blue chips (principais ações), Vale acompanhou a alta dos principais mercados e subiu na esteira da melhor perspectiva de consumo de metais pela China. As ações ON da companhia avançaram 4,02%.
Petrobrás, entretanto, registrou queda nos papéis com direito a voto em boa parte do pregão. Há quem acredite que a incerteza regulatória pesa sobre a estatal, pois a regulamentação do pré-sal ainda não foi aprovada pelo Congresso. A ação ordinária da estatal fechou estável e a preferencial subiu 1,72%.
TENDÊNCIA
Padovani, do WestLB, vê espaço para o Ibovespa encerrar 2010 aos 85 mil pontos, o que representa uma alta de pouco mais de 20% em relação a ontem. Os riscos que ele vê no curto prazo estão associados à (1) forte alta da bolsa brasileira nos últimos quatro meses, e (2) às perspectivas incertas para economia dos Estados Unidos no primeiro trimestre.
Por isso, ele acredita que, no curto prazo, o Ibovespa passará inevitavelmente por uma realização de lucros - quando os investidores aproveitam os preços altos para vender os papéis e embolsar ganhos. A fraqueza da economia americana implicará, segundo ele, um aumento da aversão ao risco no mundo.
Rappaport avalia que há fôlego para mais altas do Ibovespa no curto prazo porque (1) os resultados das empresas brasileiras relativos ao quarto trimestre devem surpreender para cima e (2) as bolsas internacionais, sobretudo nos EUA, devem avançar no período. "Como o mercado brasileiro já subiu muito, não deverá acompanhar na mesma intensidade a recuperação das bolsas lá fora. Mas, de qualquer forma, vai seguir a tendência", explicou.
A partir do segundo trimestre, ele vê um cenário mais incerto, porque acredita que os bancos centrais de países desenvolvidos elevarão as taxas de juros, em resposta à melhora das condições econômicas. Em contrapartida, aposta em uma alta do juro no Brasil menor do que a projetada pela média do mercado, o que é bom para os resultados das empresas - e, por tabela, para a bolsa.