Título: O barato às vezes sai caro, afirma Amorim
Autor: Marin, Denise Chrispim
Fonte: O Estado de São Paulo, 08/01/2010, Nacional, p. A6

O ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, reafirmou ontem que a decisão sobre o caça vencedor da concorrência FX-2 será política. Mais: em referência indireta ao caça sueco Gripen NG , o chanceler afirmou: "O barato às vezes sai caro." Durante a agenda em Paris, ele tratou do tema com os conselheiros diplomático e de Américas do Palácio do Eliseu, Jean-David Levitte e Damien Loras.

Amorim esteve em Paris para participar do seminário Novo Mundo, Novo Capitalismo, promovido pelo governo da França e realizado na Escola Militar. Antes de se apresentar, ouviu múltiplos afagos do presidente Nicolas Sarkozy ao Brasil. Ao se pronunciar, ele fez uma análise da crise econômica e da reforma do sistema financeiro, tema do seminário.

Na saída, porém, o ministro falou à imprensa sobre a polêmica envolvendo a licitação FX-2 e, em especial, sobre os caças Rafale, fabricados pela empresa francesa Dassault.

Amorim reforçou a autonomia do presidente Luiz Inácio Lula da Silva para decidir o vencedor. "Caberá ao presidente, que lidera o País politicamente, tomar a decisão, levando em conta todos os dados, técnicos e outros." A seguir, sem citar nomes de empresas ou aviões, ponderou: "Às vezes os técnicos dão uma impressão que vai num sentido e muitas vezes o barato sai caro." O argumento foi um contraponto indireto à opinião do Comando da Aeronáutica, que em parecer técnico teria avaliado que um dos fatores para levar o Gripen NG à vitória seria o preço. A Saab promete fornecer dois jatos pelo preço de um Rafale.

"É claro que os dados técnicos são importantes, mas outras considerações também são", ressaltou. "Não estou diminuindo o valor do trabalho feito (pela FAB) nem estou dizendo que ele é o único fator."

CONVERSAS

Horas depois, ao deixar reunião-almoço em Marignan, anexo do Palácio do Eliseu, Amorim confirmou ter tratado dos caças com Levitte e Loras. O tema teria sido, garantiu, uma pequena parte da pauta. "Eles estavam interessados e eu ficaria surpreso se não estivessem", relatou o chanceler. "Eu disse: "Olha, não sou eu quem negocia isso"."

De acordo com o chanceler, os executivos franceses tocaram "brevemente" no assunto e se disseram "serenos" sobre o resultado da FX-2.