Título: Sarkozy faz proposta para atacar dólar fraco
Autor: Netto, Andrei
Fonte: O Estado de São Paulo, 08/01/2010, Economia, p. B6
Líder francês apresentará ao G-20 a tese de um "mundo multimonetário" O presidente da França, Nicolas Sarkozy, lançou ontem a proposta de um "mundo multimonetário", à imagem do multilateralismo político, que seria marcado pela adoção de múltiplas moedas de referência internacional. A proposição, apresentada no seminário Novo Mundo, Novo Capitalismo, realizado na capital francesa - com a presença de acadêmicos como o Prêmio Nobel de Economia Joseph Stiglitz e o consultor especial da ONU Jeffrey Sachs -, tem endereço certo: a fraqueza crescente do dólar.
A proposta será apresentada à União Europeia e à comunidade internacional na próxima reunião do G-20. O objetivo do presidente francês é reverter o ônus criado pela desvalorização excessiva do dólar sobre moedas como o euro - e o real -, que sofrem o impacto da baixa da divisa americana nos mercados financeiros. Ontem, um euro era vendido a US$ 1,439. Segundo Sarkozy, a indústria e o comércio internacionais sofrem distorções provocadas por moedas subvalorizadas.
Para o chefe de Estado, o problema é responsável, por exemplo, pela transferência de indústrias de países desenvolvidos para países em desenvolvimento, criando desemprego nos países ricos e exploração da mão de obra barata em emergentes.
Sarkozy já havia defendido há dois dias o compartilhamento da responsabilidade do dólar como moeda de referência internacional: "Se fabricamos em euros e vendemos em dólar, com o dólar que cai e o euro que sobe, como vamos compensar o déficit de competitividade?". Ontem, completou: "O mundo se tornou multipolar, e o sistema monetário deve também se tornar multipolar", defendeu, protestando contra a política monetária dos Estados Unidos: "A desordem monetária tornou-se inaceitável: nós não podemos ganhar competitividade na Europa e ver o dólar baixar 50% em relação ao euro".
Para o governo francês, a recuperação sustentável da economia mundial passa pelo reequilíbrio do câmbio - uma bandeira que vem sendo defendida pelo ministro da Fazenda do Brasil, Guido Mantega. E, para enfrentar o problema, a França tentará trazer o tema para o centro dos debates do G-20 em 2010, esperando lançar em 2011 - ano em que o país exercerá a presidência rotativa do G-8 - novos mecanismos financeiros que permitam maior autonomia em relação ao dólar.
Além disso, a França proporá a criação, na Organização Internacional do Trabalho (OIT), de selos de garantia social, como o "direito à saúde", o "direito ao meio ambiente sustentável", que seriam considerados numa balança que incluiria os "direitos de comércio". O objetivo da proposta é combater o que os europeus chamam de "dumping social", ou seja, a produção industrial com exploração de mão de obra excessivamente barata ou infantil.