Título: Chávez muda a economia de olho nas urnas
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Fonte: O Estado de São Paulo, 11/01/2010, Internacional, p. A9

Reforma no câmbio é feita a 7 meses de eleição parlamentar

A decisão do presidente venezuelano, Hugo Chávez, de estabelecer um câmbio duplo para a moeda nacional, o bolívar forte, e desvalorizá-la em 50% em relação ao dólar, foi considerada uma estratégia economicamente arriscada, mas que pode se converter em uma vantagem política importante em um ano eleitoral, como 2010.

Segundo analistas, com a medida, anunciada na noite de sexta-feira, Chávez faz com que cada dólar ganho na venda de petróleo seja convertido em uma quantidade maior de bolívares nos cofres do governo, aumentando a capacidade de investimento do Estado e os recursos que alimentam seus projetos populistas, além de soltar as amarras para que o governo dê aumentos salariais a funcionários públicos faltando apenas sete meses para as eleições parlamentares.

A medida determinou que o bolívar forte, que estava a 2,15 por dólar desde 2005, passasse a 2,60 sempre que for usado para a compra de itens considerados prioritários. Já a compra de automóveis, bebidas, petroquímicos, cigarros e artigos eletrônicos será feita com a moeda valendo 4,30, ação que valorizou a moeda americana em 100% e desvalorizou a venezuelana em 50%.

"Isso aliviará o rombo fiscal do governo", disse Walter Molano, analista da seguradora BCP. Para Abelardo Daza, do Instituto de Estudos Superiores de Administração da Venezuela, a medida também compensará a queda no lucro com a venda de petróleo e o aumento no consumo de combustível usado pelas termoelétricas - a Venezuela vive uma grave crise energética.

A reforma também aumentará a competitividade dos produtos venezuelanos no exterior e o custo dos diversos itens importados, fazendo com que a inflação acelere em até 5%, como reconheceu no sábado o ministro da Economia do país, Alí Rodriguez.

"Neste caso, a popularidade do governo pode ser duramente atingida", disse o economista venezuelano Pedro Palma. "O impacto inflacionário da medida diminuirá o poder real de compra da população. Na prática, os venezuelanos consumirão menos."

No entanto, o governo venezuelano considera que a queda de 5,8% na inflação, entre 2008 e 2009, é suficiente para absorver o impacto negativo da medida. Além disso, os produtos considerados essenciais estariam com câmbio fixo.

Como ação complementar, Chávez pediu que o Banco Central transfira US$ 7 bilhões de suas reservas para o Fundo de Desenvolvimento Nacional, usado para financiar novos investimentos. Ontem, ele ordenou que a Guarda Nacional fiscalize a remarcação de preços.

Chávez anunciou ainda a criação de um fundo de US$ 1 bilhão para um programa de substituição de importações. Além disso, o presidente garantiu que o Estado fará intervenções em bancos que quebrarem.